Duros

Foto de Paulo Gondim

A foto na parede

A FOTO NA PAREDE
Paulo Gondim
06/07/2009

Eu nem vi você passar.
Foi rápida sua partida
Um adeus ficou para trás
Uma lembrança vaga
Uma saudade, apenas

Mas um coração partido
Foi o que sobrou de nós dois
Muita mágoa e solidão
Num misto de frustração
Sem pensar no que vem depois

E virá, como vem o dia
Como se vai a noite
E como sopra o vento
Em meu desalento
Virão a tristeza e a incerteza
Como parte de tua ausência
Tudo, compondo meu tormento

Meus dias, certamente, serão duros
As noites serão longas e frias
A primavera não terá flores
E o sol se esconderá nas nuvens
Como tu, fugindo sorrateiro,
Para não ver minha tristeza

E ficarei inerte, pensando em ti
Juntando os cacos desse desamor
Cada pedaço que ainda ande a meu favor
Um pequeno lembrar, um sussurro
Um lampejo de esperança, um suspiro
Olhando tua antiga foto na parede

Assim é o quadro de tua saudade
Imagem fosca e de pouca luz
Na dor cruel que no peito induz
Na chaga que transcende a carne
Que vara entranhas, dilacera a mente
É nesse quadro que me olho de frente
Volto sempre, só, a olhar a rua
Quem sabe te veja novamente...

Foto de Joaninhavoa

De sombra a serpente...

*
De sombra a serpente...
*

"Dizem que há uma sombra em cada esquina
Pois eu digo que tenho uma que me segue
Um fantasma presente e sempre ausente
Alguém que foge mas me fixa e me vigia

E mesmo marcando com corais o mapa
e desenhando meus ais em regatos e rios
Saem mares crescentes nomes de nascentes
D`outros tempos! E surgem outros
mapas e novas etapas...
Uma demanda evocada não sei por quem
Uma constante! Uma lua que sem ser redonda
É uma alcova sofrida de seios duros e asas
E a serpente está ao lado esquecida
a brincar de esconde esconde..."

Joaninhavoa
(helenafarias)
05/07/2009

Foto de lua sem mar

Epopeia de ti....

Epopeia de ti…
20 de maio de 2009

No céu sobe a lua, uma lua brilhante de expressão clara. No silêncio da noite vem uma música suave, um toque lento.
Aprecio a lua e as estrelas numa noite calma e fria de primavera, sentada na janela aconchegada aos meus joelhos mas, perdida por estas linhas e sombras de pensamento.
Chegas perto, muito perto de mim e me acaricias a nuca com tua mão suave, fecho os olhos e apenas sinto teu calor.
Acalmas as minhas tempestades, o bater forte do meu coração quando a chuva e os grandes ventos do norte alcançam o meu ser.
Chegas perto cheio de amor e palavras doces, pedes para chorar no teu ombro num grande abraço forte e caloroso de afectividade, pedes calma e serenas todos os meus demónios, fazes-me transbordar de alegria com tuas grandes palavras de amor e nas quantas vezes que o dizes ao meu ouvido.
Clamas à vida, à alegria de respirar, à vontade que tens de sentir as veias explodir de felicidade. Nada em ti é feito sem alegria, sem vontade, sem sonho. Porque tu és assim, um cálice vivo de vida que não se preocupando com quase nada, apenas queres ser feliz o maior tempo possível e para isso só tens de respirar.
Nos poemas que me dedicas, nas epopeias que me escreves são tantas as tuas cartas de amor, no teu desejo eterno de me teres a teu lado, no amor que sinto em cada palavra, cada linha das tuas grandes e valiosíssimas declarações, como eu as aprecio e estimo.
Acendes a tua chama de paixão e a demonstras das mais diversas formas, me possuis a mente com tua voz suave e conhecedora de tão conhecimento, apressas-me ao prazer absoluto de forma plena e tão suave. Aclamas amor eterno mas, impossível será te responder de forma tão grandiosa e sublime, tão forte sentimento que capaz será de virar o mundo. Tuas preces são à Deusa do amor, que ela me ilumine o coração e remexa tudo em mim para que eu seja capaz de sentir algo assim.
Mas são tuas as minhas poucas horas de sono, é no meu pensamento que te encontras antes do meu adormecer, e dai sai sublimes sonhos em que penetras com toda a tua alma e esplendor, nos sonhos lindos que com o meu príncipe sonho ter.
Ambos desconhecemos a palavra destino, o futuro só a nós cabe como o construir e viver de forma plena.
Apenas somos como dois barcos em alto oceano, enfrentando cada um as suas tempestades, mas, rumando cada um para seu lado, como quem brinca ao braço de ferro puxando uma fina corda.
Entrelaço-me nas dúvidas, nas incertezas, pela sereia que vagueia no mar, porque são só tuas as grandes noites de luar, dignas noites as minhas, sem uma estrela única a iluminar, aquele sonho que na verdade já não posso conquistar.
“Marinheiros e marinheiras levantar ancora e remar, ele pode sempre enviar a corda para me salvar.”
Mas meu coração enfraquece porque a sereia anda no mar e esta noite para ele é grande noite de luar, fico perto e tento observar se para mim haverá lugar e se a corda um dia vai chegar.
As minhas vagas no mar começam a aumentar, relâmpagos luminosos que me arrefecem, por teu mar chão estar repleto de luar e muita dedicação.
Penetro na escuridão e de tão longe apenas te aprecio, mais uma noite nossa com todo o desejo e esplendor, como um sino que reflecte o luar se expande e aloja nos corações dos mais apaixonados.
Encontro-me em ti, mas tuas mãos grandes e suaves, tua pele macia e morena num sonho que acordo molhada, estrela cadente que passa, um desejo que traço e tu apenas…
Falta pouco para no céu raiar a luz, preciso fugir ou apenas esconder, este grande amor que finjo não ter.
“Levantar ancora e remar, não preciso esconder-me porque tu sabes em que mar me encontrar, procura a maré à feição para o teu barco deslizar e no meu se encostar, para o nosso sonho de verdade se poder realizar…”
Declaras amor da proa à ré, sinto-me voar e o nosso sonho a se concretizar, salta para perto de mim, penetra o meu corpo, não me peças licença e agarra-me na tua mão, coloca as tuas grilhetas em mim, já estou presa a ti sem dó nem perdão, come do meu pão e destrói toda esta solidão.
Agarra-me sem medo de magoar e mostra a todo o mar as nossas musicas de embalar, nesta noite de luar. Estamos a alimentar o espírito, a alma sem perguntar ao coração se nos podemos amar, como uma só devoção é assim que quero ficar.
O luar me alcançou, sinto felicidade no teu olhar, meu corpo que explode de vontade, o desejo de apenas te amar!
Mas a sereia continua no mar, sempre a vaguear e no meu coração um grande tilintar de medo, não sou dona de ti e se um dia quiseres partir nada poderei fazer para impedir, meu coração que se divide não sei o que fazer. Poderei voltar às grandes noites sem luar, sem teu corpo para me acariciar e, na solidão me voltar a perder, não sei que decisão tomar e se realmente algum dia se vai realizar este meu desejo mais profundo, se perderei todo este medo algum dia, decidir o destino e o futuro não nos pertence, lutar nem sempre nos trás a vitoria, a certeza da grande felicidade.
Não me iludo mas não posso perder a esperança, a gota pequenina que ainda me faz viver, o sonho de te amar sem hora ou lugar e ate mudar minha forma de viver, amar, sonhar e sorrir, é em teu luar que encontro a minha serenidade, aquela que tanto me faz sorrir, vezes muitas me sinto perdida na escuridão, ajoelho-me e tento sentir o caminho espetando-me nos duros espinhos, nas pedras que a vida vai colocando para crescer e poder entender a vida de outra forma, com outros olhos.
Nas poucas horas que contigo estou, a felicidade é grande, a vontade é plena e o gosto o maior prazer que posso sentir.
Sinto-me confusa sem saber o que de verdade posso ou devo fazer, não te quero perder nem me afastar, apenas gostaria de poder concretizar o meu sonho, a minha vontade. Mas a vida é isso mesmo, um mar imenso de grandes ondas, com força muita que nos afasta do que realmente queremos. E ter meu amado que por mais perto que estejas, a longitude está sempre entre nós, embalo-me no vento que me leva ate ti, mas mesmo assim não te consigo abraçar e olhar como tanto desejo.
Longas noites em que o frio aperta e o sono recusa a chegar, na mente a incógnita do futuro, os problemas presentes, a resolução onde a encontrar, como agir, o que de verdade fazer. Noites essas que me perco nos pensamentos olhando a lua e todas as suas amigas estrelinhas que também vão brilhando no céu, fazendo-me total companhia no silêncio da noite. O tocar do sino que rompe o silencio dizendo-me que já não falta tudo para o amanhecer de um novo dia em que, mais uma vez não sabemos como será, de que forma o construir e viver…
jinho

Foto de Rosinéri

A LINGUA E OS DENTES

Um homem estava à beira da morte. Um de seus amigos, que lhe tinha grande devoção, sentado à beira de seu leito, questionava o o amigo:– "Não teria você algum segredo de vida para me ensinar?"O homem, então, com dificuldade e sua costumeira sinceridade, abriu a boca e ordenou que o amigo olhasse os seus dentes.nada."– "Tem certeza? E os meus dentes, você consegue vê-los?"“Coitado!”, pensou o amigo..., “está mesmo delirando.”– “ já faz muitos anos que o senhor não tem mais dentes..."– "Então, filho, preste atenção neste ensinamento: a língua é feita de carne e músculos, aliás músculos muito frágeis. Os dentes são estruturas mineralizadas, muito fortes, mas se acabam e caem primeiro, porque são duros. A língua é mole e flexível. Ela aprende a se adaptar... mas é firme naquilo de que necessita. Assim também, meu filho, a pessoa que tem o coração duro, diante dos problemas da vida, é a primeira a cair. Aprenda a ser flexível diante de Deus. Ele quer lhe dar um coração de carne, e não um coração de pedra, mineralizado como os dentes..."Pense nisso

Foto de Luiz Islo Nantes Teixeira

SINAIS SEGUROS

SINAIS SEGUROS
(Luiz Islo Nantes Teixeira)

Dizem que o amor
Tem uma maneira estranha
De se revelar
Mas basta parar por favor
Com a correria insana
Ou voce nunca vai notar

Ele esta na alegria
Que transforma os labios
Num belo sorriso de se admirar
Ele esta na agonia
De uma saudade
Que inunda o olhar

Ele esta na ternura
Que tem no beijo
Na hora de se entregar
Ele esta na amargura
Que tem na despedida
Que faz alguem chorar

Mas por causa dos coracaos duros
E a relutancia em perdoar
Estes sinais seguros
Passam sem que possamos notar

E quando voce abraca alguem
Quando voce sorri pra alguem
Quando voce beija alguem
Quando voce se entrega pra alguem
Sem amar tao bem
O amor lhe revela de verdade
Que voce sente saudade
De alguem
E o amor de sua vida
E aquele que o coracao convida
A morar onde nao pertence a mais ninguem

© 2009 Copyright Islo Nantes Music(ASCAP)

Foto de Serafina e Tatiana

Hoje não sei quem Sou!

Sinto que já não sou o que um dia fui
Toda a ternura, simpatia e vontade de viver se foram
Morreram no dia em que cai no abismo
Abismo esse que me arrastava para uma realidade
Triste, dura, desagradável...
Afinal não era um conto de fadas, mas sim um sonho que
Se transformou de repente em pesadelo e me assombra ate hoje

Foram dias, noites, semanas e mesmo anos...
Uma dor e angustia insuportável, ou pelo menos era o que me diziam...
Mas ali estava, impávida e aparentemente serena, sempre a teu lado....
Sempre pronta para aparar os mais duros golpes que a vida proporcionava...

E depois?
Depois chorava, chorava, chorava... ate não poder chorar mais...
Ate afogar o desespero que sentia, toda a dor... Que não passava apenas atenuava...

Mas reagia, e cada dia com mais força e convicção e dizia...
É hoje!!! É hoje!!! Hoje as coisas vão melhorar...

E tu partias... uma e outra e outra vez...
Sempre com a mesma promessa, sempre com a mesma mentira...
E eu?
Acreditava!!! Claro!!! Estávamos juntos!!!

Mas tu voltavas.... E nada mudava!
Voltava a dor, morria a esperança e morria um pouco de mim....

Tantas vezes partiste e tantas vezes voltaste que acabaste por levar tanto de mim
Que hoje já não sei quem sou...

Foto de Marta Peres

Não me nega o sorriso

Não me nega o sorriso

Não me nega seu sorriso,
preciso dele como preciso do ar
em minha vida, limpa a lágrima
dos olhos, não deixa a tristeza
ferir esta rosa, espinhos cruéis,
marcam profundamente, desfolham
o que de melhor há no seu coração.
Não me tira a água mansa, nascente
na encosta, que rega meus olhos cansados,
os momentos duros em minha vida,
dificuldades previstas na jornada.
Deixa a porta aberta para eu entrar,
quando cansado da luta árdua, da volta
do trabalho defendendo meu ofício,
regressar desanimado, que encontre forças
neste jardim florido, no riso alto
que sai de si, nesta alegria contagiante.
Não me nega o seu sorriso...

Marta Peres

Foto de Joaninhavoa

RITUAL MUSICAL

***
**
*

É pela noite dentro que o sentir se faz refulgente
Desantam-se os nós dos duros tormentos
E ouço tua voz quente e ardente presente
Com mãos de amor desenhas em delírios

A nascente da fonte d`águas de sangue
O ritual da música no sonho sonhado
Disciplina cativa que tu me tens dado
D`viver a teu lado o dia que chegue

Lira cordial elixir sons dos amantes
Emite fragmentos completos repletos
Expressão sublime de energia

Espiritual! Paixão, profunda expressão
Para lá do infinito, para lá do sensual
Um Beethoven, num apogeu de génio

D`espírito musical…

JoaninhaVoa, In “O Meu Amor”
(29 de Junho de 2008)

Foto de Amadeo Santos

Comentário / Carta Aberta

MFN, espero que esteja tudo bem consigo!
Inicio este comentário (carta aberta) alertando que vou ser longo e directo, tal como o senhor costumava ser!
Devo informar que sempre fui unicamente visitante assíduo do site poemas de amor à muito muito tempo, sem nunca me ter inscrito. Fi-lo agora para poder intervir aqui nesta sua despedida. Acredito pessoalmente que os seus dados pessoais são verdadeiros e assim sendo, digo-lhe que tenho uns anitos a mais do que os seus. Sou já um reformado profissional e um activo na vida.
Como já falei, leio o poemas à muito tempo e reconheço aqui muitos bons valores da escrita, mas quando o descobri a si deu para notar de repente que se tratava de alguém muito especial e diferente. Foi ai que fui ver a sua ficha de identidade aqui no poemas e reparei muito atento no seu perfil e entendi perfeitamente a sua sinceridade e postura de vida. A sua frase de apresentação é duma sensibilidade incrível e os seus escritores preferidos são daqueles que interrogam profundamente o ser humano. Confesso que Augusto Cury não conhecia e fui descobri-lo porque entendi que sendo um dos seus preferidos só poderia ser interessante e não me enganei.
Deixe-me olhar para você com olhos de um velho homem apaixonado pela vida como o senhor provou ser, e de um jovem de espírito mas sem já a força física de outros tempos.
Você não é fácil de ler. Não sei se devo falar assim, quero dizer você obriga a reflectir demasiado cada palavra, cada frase, cada linha e cada pensamento. Você é diferente sabe? Sabe que o leio hoje e amanhã ao reler de novo uma reflexão sua ou poema, leio já de forma um pouco distinta? E não sou eu que mudo ou o meu estado de espírito, emocional ou psíquico, são os seus escritos que lendo-os com mais atenção eles me levam para outros pensamentos e descobertas de caminhos. São autênticas missivas de conhecimentos interpelantes.
Que me desculpem os moderadores do poemas de amor, mas é uma grande perda a sua saída sem querer menosprezar o valor dos outros. Você interpelava com os seus pensamentos, eles eram atrevidos, duros e directos. Demonstram uma sustentação de experiência não calculada à sua idade (a ser verdade a informação do seu perfil e que acredito que seja).
MFN o tempo como você diz foi pouco mas o que me transmitiu foi muito. Você tem poemas e reflexões pesadíssimos de saber. Creio que não serão capazes todos de os entender à primeira assim como eu. Assumo que não os apanho logo à primeira vez que os leio e nem tenho a certeza de chego onde você quer que eu chegue. São muito enigmáticos, pragmáticos e de uma objectividade inconfundível como confundível.
Tem uma reflexão (poema) seu que quando comecei a ler ia ficando com uma ideia mas fui-me habituando a que a qualquer altura e rapidamente você me iria confundir, porque o seguimento da reflexão parecia tão fácil de entender que desconfiei e na verdade estava certo, eu lia o evidente mas o que o senhor queria dizer não era o que eu lia assim tão evidente, era mais do que isso. Aprendi que não podia le-lo tão rápido, cada palavra tem o seu peso e encaixe e quando me apercebia que o julgava estar a entender logo pensava devo estar a perceber errado. Relia e concluía que era verdade, estava a falhar. Lendo rápido o senhor, fico com uma ideia depois ela é outra quando o tenho com mais atenção e serenidade.
Você escreve sempre em várias direcções, chegou até a fazer chamadas de atenção aqui ao site do poemas, fez também reparos a sua forma de ser, deu indirectas a alguns comportamentos e tudo se manteve. Acho que as suas observações passaram despercebidas a muitos, e que até muitos não o liam porque o que escrevia era sério de mais para o que muita gente está habituada a ler. E os que entenderam as vezes que se insurgiu contra entre aspas algo, preferiram manter-se calados, pois são muito mais aqueles que gostam do facilitismo e do deixa andar do que aqueles que preferem colocar o dedo na ferida para a tratar como deve ser. Reparei que fazia poucos comentários, e argumentava falta de tempo, acredito sinceramente que sim, e reparei também que só alguns o comentavam e não seria por falta de tempo, porque comentavam outros. Mas você escreveu também sobre isso de outra forma inteligente. Li um poema que falava de um polvo duro, e percebi onde quis chegar. Você falou tanto e tanta coisa em tão pouco tempo neste site e para este site directamente. Acho que sei quem você gostava de ler, e eram muito poucos e diferentes.
A sua despedida em vídeo, com um tema tão lindo e ao mesmo tempo tão triste, faz perceber que você sai descontente deste espaço. Talvez sentindo-se um incompreendido pela maioria. A ideia de colocar a sua voz no vídeo para que pudéssemos conhecer uma voz real, triste e melancólica, não foi só para a despedida do seu amigo, foi talvez para que pudéssemos perceber e entender a tristeza com que abandonava o site. Deixou em voz viva aqui e para sempre um rosto e as suas pegadas de passagem.
A sua passagem por este site, marcou mesmo. Repare que neste ultimo escrito seu, houve um comentário de um participante que nunca o tinha feito antes, acho que percebi perfeitamente a sua intenção e acho também que foi um comentário tão falso e tão verdadeiro de infelicidade. O comentário só lhe ocorreu na hora de saída e talvez por se sentir mais à vontade com o facto de ter comunicado de que não iria responder, e também, pela sua saída o deixar com menos sombra e mais visibilidade para quem gosta dela. A atitude do comentário é de facto uma das evidências negativas com que você algumas vezes se insurgiu aqui no poemas. Você no último vídeo diz que o seu amigo era “único”. Deixe-me que lhe diga, aqui no poemas tem bons escritos, mas os seus são tão únicos. Você é um dos únicos.
A sua entrada aqui no poemas criou alguns embaraços e amuos, você cortava a relva muito baixa e em todas as direcções e isso perturbava os mimaditos da casa, aqueles que gostam da popularidade, das palmadinhas nas costas, dos beijinhos, dos pontinhos e das vitórias sem suor e sem justiça. Podia continuar a escrever mais até porque sendo a primeira vez e só porque não me podia esquivar de deixar este escrito de justiça, tristeza e apreço à sua passagem por cá. Mas vou terminar desejando-lhe a maior sorte do mundo e sei que você vai consegui-la. Você deixou perceber que conhece os seus caminhos e como muitas vezes escreveu os seus momentos e tempos.
Aqui no poemas, vou resignarmos novamente à minha postura de visitante até que apareça algo a tocar-me profundamente como o MFN o fez. Mas confesso que leio muito aqui e gosto de ler outros escritos para além dos do MFN, mas os seus eram de longe os meus favoritos.
Despeço-me com respeito.
Amadeu Vargas

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E O PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 5)

A novamente recolhida em si, a montanha não se conformava. Como podia ser aquilo? Um pintassilgo tão lépido e inteligente tinha obrigação de encontrar a saída providencial. Será que a velhice roubara a sua visão? Claro que não, para outras coisas não! Medo de vento ele sempre tivera, mas ante a possibilidade fortuita de recuperar a sua sagrada liberdade, não poderia titubear em optar pelo vento que, diga-se de passagem, não seria mais perigoso fora do que dentro da gaiola, onde já havia entrado. Não, tinha que haver uma outra razão plausível.

De repente, ela se recordou de um detalhe que lhe pareceu importante: durante o imenso minuto em que tudo aconteceu, em nenhum momento o pintassilgo lhe dirigiu sequer um único pensamento. Foi como se ele não ouvisse os seus apelos agoniados, para que fugisse pela portinhola entreaberta, antes que fosse tarde demais. Por que tal comportamento? Será que não mais considerava valiosa a especial e já manifestada amizade de uma montanha? Ora, não havia dado a ele nenhum motivo para tamanho desprezo, muito pelo contrário.

Sua indignação contudo ainda se transformaria em perplexidade: algum tempo depois a montanha foi arrebatada das suas reflexões pelo canto, agora de fato inconfundível, do seu pintassilgo. Lá estava ele novamente. A gaiola fora reposta no mesmo arvoredo, reabastecida de sementes e água, parecendo que nada havia acontecido ao passarinho. Até se poderia deduzir que estava mais feliz do que antes da ventania. Coisa mais absurda ― disse ela a si mesma. Porém, era evidente, nenhum pintassilgo deprimido poderia cantar tanto nem com tamanho virtuosismo, nem dar cambalhotas no ar e fazer outras piruetas. Até um banhinho ele tomava. Sucinto, como são os banhos dos passarinhos, que não têm muita intimidade com líquidos e nem muito o que lavar. Mas bem diante dos arregalados olhares da montanha, o bichinho espirrava água para todos os lados, enquanto, literalmente, mostrava ser também um entusiasmado cantor de banheiro.

Quando a tarde já se preparava para anunciar a sua partida, uma cena insólita mais uma vez surpreendeu a montanha. Vieram os dois caçadores na direção do arvoredo. O velho, ensimesmado, apertando as pálpebras como que por impaciência, não respondia uma só palavra, ao passo que o jovem, mostrava-se inconformado. Alguma coisa o levava a gesticular muito e a despejar no vento repetidos argumentos, tão atropelados que era difícil entender o mínimo. Até mesmo interpor-se no caminho do outro o jovem tentou, inutilmente. Para espanto até do pintassilgo, não apenas o caçador mais velho retirou a gaiola do galho em que estava pendurada, como ainda meteu a mão pela portinhola, apanhou o bicho apavorado entre os dedos, grosseiros mas cuidadosos, e em seguida simplesmente abriu a mão e esperou que ele voasse. O passarinho atônito demorou a entender, porém depois de poucos e longos segundos, mais assustado do que feliz, lançou-se no vazio, seu natural quase esquecido pelos anos de cativeiro. Com um sorriso contido no rosto também marcado pelo tempo, o homem ficou olhando onde ele pousaria. Por seu lado, aborrecido, o jovem virou-lhe as costas e com as mãos na cabeça, numa expressão de perda, foi-se embora a passos duros na direção do vale.

O pintassilgo não chegou muito longe em seu primeiro vôo. Não mais reconhecia a liberdade, suas possibilidades e perigos. Logo percebeu que praticamente nada estava tão perto e disponível, e que necessário se fazia agora dosar o esforço de se deslocar. A satisfação das necessidades dependeria de ser capaz de reconhecer seus limites. E aí estava uma coisa que não lhe parecera importante durante muito tempo: teria que olhar para dentro de si, em vez de conhecer, por dentro, apenas a gaiola. Mas a prática de todas essas coisas teria que ficar para o dia seguinte, pois já estava completamente escuro. A noite, fora da gaiola, era terrivelmente assustadora, até porque, embora estivesse acomodado em um lugar bem seguro contra predadores, ele não sabia disso. Perdera as referências para avaliar a sua segurança e, desse modo, tudo parecia potencialmente perigoso. Os múltiplos sons da noite, assim mais se assemelhavam a uma sinfonia macabra. Fora das paredes da casa do velho caçador, o mundo se tornara quase desconhecido. Não havia mais o acolhedor teto de sapê seco. Não havia ali, na verdade, nenhum teto e o sereno já se mostrava ameaçador. Em compensação não havia nenhuma ventania (Céus! Uma ventania no meio dessa escuridão seria morte certa e dolorosa!), contudo a aragem natural e constante da noite, resultante do resfriamento, tornava difícil manter uma camada de ar, aquecido pela temperatura do corpo, entre as penas e a pele delicada. Apesar de ser pessoa de intelecto muito simples, o caçador sabia que os passarinhos dependem disso para sobreviver e tivera sempre o cuidado de manter a gaiola em algum lugar bem protegido.

Porém, todas essas perdas decorrentes do cativeiro prolongado pareciam secundárias, do ponto de vista de alguém que não poderia caber em gaiola nenhuma. A montanha passara as últimas e desesperadas horas tentando se comunicar com o pintassilgo. E assim foi, ainda por outras horas. Era alta madrugada, ela resolveu que devia armar-se de mais paciência. Decepcionada, viu afinal que as tais perdas tinham uma magnitude bem maior. O seu velho amigo passarinho perdera grande parte da percepção do seu meio natural e exterior, porém, perdera também parte da percepção interior. Que triste era isso.

(Segue)

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