Domingo

Foto de Lou Poulit

São Jorge e o Dragão

Sentados em bancos tipo meia-bunda, Hermes e Cuia haviam acabado de chegar ao balcão da birosca. Cuia era bebedor dos bons. Mulato quase negro, de fala mansa e bigodinho de chinês. Bom malandro, sobrevivente a tudo. De terno e gravata daria um excelente relações públicas. Só bebia cachaça e tinha preferência: Ô Portuga, dá meu marimbondo aí! Já seu amigo Hermes era letrado. O Vela, como era chamado na adolescência, era magérrimo, branco como um defunto, parecia meio lento em tudo. Havia se afastado dali por alguns anos e nesse tempo fez faculdade, arrumou emprego, casou, separou, casou de novo, separou de novo, casou mais uma vez... Continuava mal bebedor, pedindo a mesma marca de uísque: Ah... Bota qualquer um aí, Portuga.

O Cuia só observando. Em sua cabeça um silêncio era bom conselheiro: gozado, o tempo passa e as pessoas vão se misturando. Aquela que conhecemos desde dos tempos das pipas e peladas, agregam-se com outras que não conhecemos ainda, mas parecem tão importantes quanto as antigas, senão mais. E todas se dão muito bem umas com as outras, dentro do mesmo corpo.

Era manhã de domingo, dia de decisão no campeonato local de futebol. A birosca na encosta da favela já parecia lotada. Se a polícia chegasse de repente, com certeza ganharia o dia, porque já era quase impossível aos de dentro vigiar os que viessem de fora. O tumulto pacífico da birosca era como o Hermes. Com o passar dos anos alguns não arredam pé. Outros, desconhecidos, chegam, depois voltam e vão ficando. E outros tantos somem, por algum tempo ou definitivamente. Mas a birosca ainda era a birosca do Portuga e as alterações individuais não modificavam muito a mistura. Fora a fauna birosqueira, tudo mais parecia continuar nos mesmos lugares: as garrafas de bebidas mais caras, os salames e enlatados cobertos de poeira, no nicho de táboa a lâmpada devia estar iluminando o São Jorge que, a despeito da ausência de uma lança, não fora ainda comido pelo dragão, apesar de tantos anos de luta. O próprio Portuga sempre se dizia convencido de o aquele dragão enchia a cara de madrugada, depois que fechava as portas, e que só por isso não conseguira ainda comer o santinho.

O Hermes agora tinha uma identidade virtual, a julgar pelo palavriado que estava usando e que provocava a indignação dissimulada dos bebuns mais próximos: sabe, Cuia, o Portuga devia deletar aquele mictório compactado... Como é que é? – Espantou-se o amigo. É verdade, mermão... Aquilo é um banco de vírus! O Portuga é meio lento mesmo. Ele quer que esses caras acertem uma latinha daquelas. Já viu bêbado bom de mira?... Não – Cuia achou melhor não interromper – Nunca vi não... Então, Cuia, pra começar você tem que se espremer pra passar na portinhola. Só nisso já vai um risco. Depois tem que segurar a bebida, o cigarro, a portinhola... A portinhola?... Claro, mermão, vai que alguém deixa pra última hora e entra lotado. É uma senhora “portada”!... Riram-se os dois e o Cuia completou: É o que chamo de um arranca-rabo!... E o cara que não queria encostar em nada... Vai chegar em casa todo molhado – Hermes interrompeu - e a dona encrenca vai inserir o cara na casinha do quintal, vai passar a noite junto com o Totó!

Ô Hermes, por falar nisso, cadê a Laurinha?... Laura? Ô Cuia, que estória é essa de “por falar nisso”? Eu nunca dormi com o Totó não. Você precisa ler as atualizações do meu perfil... Ler as atualizações... – Repetiu o outro perplexo. E faz isso rapidinho, porque eu tô saindo, Cuia... Você tá saindo... Já vai embora?... Que vou embora, cara? Quis dizer que tô desistindo das mulheres dos outros... – e aproximou-se do ouvido do amigo – Estou apostando todas as fichas na mentirinha... Que mentirinha, Hermes?... Ô rapaz, aquela gata gorducha, que trabalha na “lan house”, vai dizer que nunca viu?... Sei, da loja de internet ali no fim da ladeira. Mas não era a Laurinha a razão da sua vida?... Laurinha nada... Se arrumou com o dono da firma, agora desfila de gerente... Ô meu irmão... – O Cuia mostrou-se penalizado – Que azar... Azar? Você não sabe da missa a metade. Depois dela já tive a Mariazinha, a Teresinha e a Socorrinho... É mesmo Hermes?... Tô te falando, Cuia, mulher dos outros agora pra mim é homem!... Nenhuma delas deu certo, né?... Não podia dar: A Mariazinha só queria saber de ganhar coisas caras... Ih, mermão, isso ia te deixar na miséria... Deixou mesmo. A Teresinha no início era uma santinha, o marido tinha sido atropelado, vivia numa cama, e ela passava o dia fazendo sexo pelo computador... Mas isso não resolve, Hermes... Não, a gente saía toda semana... Então, qual foi o problema?... Ela acabou viciada, Cuia. Perdeu a fibra... Como assim, não era a sua mulher?... Não!! Era mulher do computador!!... Ô Portuga, dá mais um aqui pro Hermes!

Cuia precisou pedir mais bebida para dissimular. Tinha muita gente em volta olhando, querendo saber quem era aquela tal mulher do computador. Sem se dar conta e parecendo soterrado de alguma culpa, Hermes foi se explicando: Mas a Laura, ô Cuia, ela não foi a única culpada, sabe? Porque quando comecei a desconfiar dei de ficar deprimido. Depois, sabe... Eu não dava mais cem por cento, depois nem oitenta, e foi diminuindo, diminuindo a transmissão dos dados... Entende?... Os dados? Ah, sim, acho que entendo. Mas e a outra?

Quem, Cuia? Já te falei, depois foi a Mariazinha... Me deixou numa miséria de dar gosto. Ô acesso caro aquele, sô... Aí eu não podia mais fazer outras coisas das quais gostava e sentia falta, não tinha grana pra nada. Estourei o cartão de crédito. Ninguém olhava mais pra minha cara, mermão... Tentando entender melhor, o Cuia perguntos pelos dados... Ah, a transmissão voltou a cair, né? Chegou a menos de um quilobite por segundo! Ô desespero o meu... Por que você não fez uns programas, pra variar?... Programa, não fiz nenhum, Cuia. Mas baixei tudo que pude baixar. Todo dia era dia de “down”... E nada de “up”... Nem um cachorrinho? – O Cuia perguntou brincando, para tentar levantar o astral do amigo... Nem um, era só cavalo-de-tróia!... Essa eu não conheço ainda, mermão... Nem queira, Cuia. Depois você tem que fazer uma faixina geral. É muito chato mesmo. E se perdesse o HD nunca mais vinha aqui beber com você. Em falar nisso, ô Portuga! Cadê o meu uisquinho?... Já vos dei, ó pá!... Tão dá outro!

Da posição em que estava, Cuia percebia o interesse crescente dos bebuns em volta na estória do Hermes, mas achou melhor não interromper. O amigo devia estar precisando desabafar. Depois, eles não poderiam mesmo entender aquele dialeto de informática. Também não entendia bem. E o Vela continuava falando: Agora a Teresinha, Cuia, nas primeiras vezes aquilo chegava sem jeito, olhando pro chão... Mas dali a pouco a santinha virava o demônio com rabo e tudo. Caraca, mermão! – O Cuia completou – Você só no piloto-automático... É isso, Cuia, o navegador era dela. Ela que escolhia a página... E num tinha anúncio não!...

Ao ouvir tais palavras, um dos bebuns já bastante calibrado, amigo dos tempos das pipas, chegou-se ao ouvido do Cuia e perguntou: Ele tava vendo televisão ou o que?... O Cuia dissimulou: Ainda não sei, mermãozinho. Fica na tua aí, na moral. Deixa o cara acabar de falar, valeu? O bebum voltou meio inconformado pro canto dele e o Hermes falando: Mas foi assim só nas primeiras vezes. Pôxa, Cuia, eu já tava apaixonado por ela quando, numa tarde, começou a balbuciar umas arrôbas diferentes... Que arrobas, Hermes?... Endereços, Cuia... Ah, dos outros amantes dela?... Que outros amantes? Amante era eu, o resto era virtual! - Hermes indignou-se, deu um murro na táboa do balcão e pediu mais uísque. Do seu canto, sentindo-se desprezado, o bebum disse com a voz lenta: Taí... Que machão que ele é... E recebeu um olhar enviezado do Cuia.

O Vela nem se dava conta do que acontecia à sua volta, ia desfiando o seu rosário enquanto a audiência dos bebuns aumentava: Eu não queria bloquear nem excluir a Teresinha, mas a cada nova tentativa ficava pior... Aí conheci a Socorrinho, que também era Maria, Maria do Socorro... E qual era o problema dela, mermão?... Não era ela não, Cuia. O problema era o marido dela... Ué, por que?... Porque o cara tinha mais de dois metros de altura, era muito forte e ruim que só o cão... E ele sabia que era chifrudo?... Sabia, mas era apaixonado pela Socorrinho e já tinha mandado dois pra lixeira, cara!... Ih, canoa furada, Hermes... Então uma tarde ela me chamou na casa dela... E você foi, maluco?!... Fui, ela me disse que estava precisando de um desencanador... Ocê é doido... É foi doidice mesmo. Quando eu pensei que ia carregar o arquivo, a trezentos kilobites por segundo... O cara te deu o flagrante... Não, tocaram a campanhinha... Ô mermão, ninguém toca a campaínha pra entrar na própria casa... Pois é, mas já derrubou a velocidade, né? Era o filho da vizinha. Ela despachou o moleque a agente voltou pro matadouro...

O bebum desprezado era um bebum respeitado. Toda hora fazia uma careta, ou um gesto, e os demais bebuns, formando já uma meia-lua às costas do Hermes, trocavam impressões. Percebendo tudo, o Cuia tentou levantar a moral do amigo: Aí você fez o couro comer... O bebum balançou o dedo indicador e fez beiço, querendo dizer que não acreditava. O Hermes respondeu: Mais ou menos, Cuia... Os bebuns metidos a jurados dissimularam uma estrondosa risada, quando o bebum desprezado saiu da birosca fazendo uma porção de gestos. Mas não demorou muito, alguns minutos depois lá estava ele novamente, pedindo licença para passar e voltar ao seu canto. Que mais ou menos é esse? – Perguntou o Cuia. Eu disse mais ou menos porque quando o programa estava quase carregado, ela me sussurrou que ouvira um barulho na cozinha. De repente o cara entrou no banheiro, já tirando a roupa, e quando me viu perguntou o que eu estava fazendo ali... E você, mermão, por que não pulou a janela?... Que janela, Cuia? Primeiro porque não tinha uma por onde eu pudesse passar. Segundo porque o banheiro era tão pequeno e o cara tão grande, que eu tinha a impressão de que éramos duas sardinhas numa lata. Ou melhor, uma sardinha e um tubarão! Que coisa, rapaz. Ele entrou tirando a roupa e eu tentando vestir a minha!... E aí?... Ai eu disse que já sabia qual era o problema... Como assim, Hermes?... É, mermão. Vou explicar: Quando corri pro banheiro, logo vesti a cueca. Aí ouvi o cara falando que havia chegado o caça-vírus. Então, em vez de por a roupa, eu desenrosquei o sifão da pia e abri a torneira. Só não deu tempo de abotoar as calças... E o cara caiu nessa? Mas que otário!... Bem isso eu não sei. Porque eu disse a ele que no dia seguinte voltava pra tirar o entupimento. Ele me pediu que saísse do banheiro porque queria olhar o serviço. Enquanto ele olhava eu fui saindo. Quando pus o pé na rua, mermão, desembestei que nem a mula-sem-cabeça! E ainda passei uma semana correndo. Vendo o cara atrás de tudo que era poste.

A turma de bebuns já não dissimulava mais as risadas e os julgamentos. E já não era composta apenas de bebuns, nem somente de homens. Haviam chegado mais torcedores e algumas prostitutas mas, devido a bebida já em conta alta e ao peso das lembranças, o Vela não se importava. Expunha-se ao ridículo, despertando a piedade de alguns. Cuia não sabia mais o que fazer. Pensava em como levar o amigo para casa, enquanto ele ainda pudesse andar com as próprias pernas. Mas de repente o Hermes se empolgava e recomeçava a falar, sem tramelas na lingua já melosa. Estava claro que ele não se submeteria a nenhum conselho: E tudo por causa daquela piranha, Cuia! A gente era feliz. Eu percebi muito antes e falei com ela. Disse que o Afrânio ia querer lotar o disco, secretária novinha, com tudo no lugar, se sentindo importante... É, o cara foi esperto... Ela é que foi uma vagabunda! Eu avisei antes, ela aceitou porque se entusiasmou com as gentilezas do Dr. Afrânio – disse o Hermes com desdém... Mas clama, mermão, isso agora já é passado. Esquece essa estória e vai em frente. Você não quer pegar agora a mentirinha? Então pega e esculacha, mermão. Vai te fazer esquecer as outras. Inclusive a Laurinha... Ah, a Laura não, Cuia. Eu não consigo esquecer o que ela me fez. Nunca, jamais vou perdoar aquela mulher. Se encontrar com ela na rua eu arrebento a piranha de porrada.

Sem sair do seu canto, o bebum desprezado balançava o dedo e fazia beiço. Os demais, já em franco debate, se dividiam. As prostitutas, em grupo, se defendiam. Alguns torcedores defendiam as prostitutas, para que tivessem o que fazer depois do jogo, afundar a mágoa em caso de derrota. O Portuga não tomava partido, bastava-lhe vender bebidas para todos. No fundo todos se divertiam, aproveitavam o fim-de-semana. Até o dragão se divertia com aquele São Jorge sem lança! Menos o Vela. Estava realmente consternado, não parava de imaginar formas alternativas de trucidar a Laura. E usava as opiniões dos bebuns para reorientar as suas tramas, curtindo a dramatização da sua desgraça, como se lhe causasse prazer. Numa dessas, ao dirigir-se ao grupo de prostitutas para ver sua reação, percebeu que uma delas saia de trás do grupo e atravessava em sua direção. Ele não queria falar com ela, era apenas uma puta, como dizia ser também a Laura. Tudo farinha do mesmo saco! – Disse em definitivo.

Quando o Hermes escutou aquela voz de mulher lhe dizendo um curtíssimo “Oi” pelas costas, imaginou que o mundo havia parado de repente. Um silêncio palpável preencheu o ambiente. O Vela tentava decidir o que fazer, sob o peso de muitos olhares. Quando se voltou para trás, viu que havia uma mulher muito bonita no centro de um pequeno espaço, obviamente aberto para ela. Apesar do congelamento generalizado, apenas o bebum desprezado balançava a cabeça, mas agora positivamente. O Hermes não conseguia articular uma só palavra. Dentro do seu íntimo encharcado de uísque “qualquer um”, tudo era escuridão, uma multidão de vultos ia e vinha, sem que ele pudesse organizar o pensamento. Não teve coragem de dizê-lo, mas não restava nenhuma dúvida: só podia ser a Laura. Queria olhar dentro dos seus olhos, pois conhecia-lhe o olhar, mas a bebida já não o permitia. E quando a mulher lhe estendeu docemente a mão, com um sorriso calmo e soberano no rosto, o Vela não conseguiu fazer resistência. E deixou-se levar lentamente para fora, pela mão, como uma criança ingênua. Atravessando o silêncio estupefato e o julgamento sem veredicto de cada um dos presentes, sumiram os dois entre os torcedores que, na rua, preparavam-se empolgados para tomar o caminho do estádio. Como se houvessem ali dois mundos paralelos, o casal e os torcedores não se confundiam, mal se notavam. Era de se pensar que não estivessem no mesmo tempo e no mesmo lugar. Uma mão imensa e irresistível parecia abrir aquele mar de gente, enquanto o casal sereno e mudo escapava dos julgamentos, sem que se molhassem sequer no suor dos torcedores.

Na birosca, foi o bebum desprezado que quebrou a perplexidade. Deu um tapa na lateral do balcão, fazendo um estrondo que deixou o Portuga furioso. Ô Portuga! Dá outro marimbondo aqui pro meu amigo Cuia, que ele está pagando o meu também – e virando-se para o mulato, que se mantinha pensativo, sussurrou - como nos bons tempos, hem Cuia? Uma a uma as pessoas foram se reacomodando pela birosca. O bebum sentou-se no banco, que o Hermes deixara morninho, disse com ar sábio: Ah, o amor. Coisa mais linda é o amor... Encafifado, o Cuia não respondeu mas quis saber: Sabe, você até pode me achar com cara de panaca, mas eu não tenho certeza de que aquela mulher era a Laurinha. Se bem que era muito parecida, não vejo há anos, mas acho que não era não... O bebum virou a sua cachaça toda de uma vez e depois ficou olhando para o chão, reflexivo, com um sorriso torpe nos lábios. Depois de um tempo, finalmente falou claramente: Não era ela mesmo, Cuia... Mas então, quem era ela?... Depois de fazer uma careta, como se rebuscasse o passado, explicou: Você não se lembra da Fátima? Não, né. A menina que vendia bala na estação do trem... Não, não me lembro mesmo... Eu conheci as duas desde pequenas, desde quando eu era um homem respeitado. A Fátima é mais nova, mas sempre foi parecida com a Laura. Depois meteu-se com aquele bandido, famoso por cortar as orelhas dos seus desafetos... O Pinga-Fogo... Isso, ele mesmo. Ele sustentava a ela e a outras molecas. A Fátima engravidou para se sentir mais segura, mas o cara apareceu cheio de buracos pouco antes do bebê nascer. Ela então andou na mão de um e outro bandido, pra manter o pirralho. Depois desapareceu de repente. Passou uns anos fazendo programas com gente endinheirada, gerentes de banco, diretores de empresa. Tem três meses que ela reapareceu, está morando no bairro aí de trás... Mas por que ela tomou aquela iniciativa?... Porque, como lhe disse, coisa mais linda é o amor...

O Cuia estava inconformado, não conseguia entender direito. Não vai me dizer que ela está apaixonada pelo Hermes?... Que apaixonada, Cuia. Ela nem conhecia ele direito... E como ela veio parar aqui na birosca?... Eu chamei, ora. Ela é puta, não é adivinha. Mas eu conheço ela muito bem. Você sabe que conheço as putas daqui. Não posso mais pagar pelos serviços delas, mas conheço bem várias delas e sou amigo delas... Que coisa de doido, quem vai pagar? Quando o Vela entender tudo não vai tirar um tostão do bolso... Nada de doido não, Cuia. Ela não veio receber dinheiro não... Como não?... O bebum parou, se ajeitou no banco e continuou: Cuia, meu velho Cuia... Eu já vivi um pouco mais que você. E lhe digo com toda a convicção: As mulheres que vivem de programa não são todas iguais. Mas são seres humanos todas elas, têm sentimento. Eu não pedi, apenas perguntei se ela queria fazer isso. Ela confiou em mim e topou fazer... Mas o Hermes não ama essa mulher... Já deve estar amando, Cuia... Não é a Laurinha... Que diferença faz, Cuia? Ele precisava amar, se regenerar, tirar o paredão de dentro dele. Você acha que o amor dele, que ele não pode exercer e não serve pra nada, é mais amor que o da Fátima, dado de graça, pela necessidade dele e por amizade a mim? E ademais ela não tem nada a perder, tem a dar. Qual o pecado nesse caso? Mas o Vela podia ter perdido a vida, lá no banheiro do caça-vírus. E noutras vezes, porque ficar pegando as mulheres dos outros...

O Cuia ainda não aceitava plenamente a conversa do amigo, porém reconhecia certa razão. E será que o Vela vai segurar a peteca? Do jeito que saiu daqui, não sei não... Ora, Cuia, ela é uma mulher sofrida, experiente, com certeza vai dar o jeito dela... Mas ele não vai se casar com ela, né?... Casar? Acho que ela não ta pensando nisso, não. Prostitutas nunca pensam em casamento numa primeira ocasião. Não é esse o trato. Se você sair com uma delas e falar em casamento, nunca mais ela sai contigo, pra não apanhar do cafetão... Mas vai que a Fátima pensa... E daí? Eu não sou cafetão, não ganho dinheiro com ela... O Cuia pediu a conta ao Portuga, pagou a cachaça e pendurou o uísque, reclamando do preço. Depois, com ar de satisfeito, disse ao amigo: bom, tomara que pelo menos você esteja certo e ela saiba acender velas. Senão, quando ele voltar aqui, vai dizer que de repente bateu um vento... Que nada, Cuia, você num entende nada de velas. Ele vai dizer que quando o programa estava carregado, caiu a conexão!

Foto de Fernando Inazumi

Minha Vida

Entro pela porta da frente do seu coração, uma amizade pra recomeçar. Dizendo querer ser o seu mundo, só para bagunçar o meu. Eu sei. Sou apenas eu a dizer.
Amo-te e digo. Quero ser seu dono, aquele que te ama.
Eu sou aquele que sofre por você em todos os momentos, uma flor, vivendo despedaçado com as pétalas ao chão.
Despedaçado como uma flor, meu néctar é você.
Envolvo-te com palavras discretas, nossos corações a mil.
Talvez eu não seja o cara mais certo pra você, lembro-me dos meus fracassos.
Te atento com minhas palavras pra tudo que sou, tudo o que você representa para mim.
Mas você não liga para os meus versos, desfazem em palavras, letras de uma música mal cantada.
Tira do meu pensamento esse sofrimento, de ter fragmentos de você em mim.
Basta dizer que me ama. Vem me fazer feliz.
A rima do meu nome com o seu, tem igual valor.
Mundos pequenos para dois que se amam, acreditar no amor. Que tudo mudará.
Vem dar a resposta pra mim, diz que sim, diz que me ama.
E eu não te negarei um pedacinho de mim. Que está guardado no peito, o meu coração.
Você apareceu na minha vida, deixando pra trás todo o seu olhar.
E seu perfume não deixa enganar, é você que eu amo.
Amo-te e não vejo razões pra desistir, pois sei que meu mundo ideal é ter você perto de mim. Minha deusa. Meu coração.

Fernando Inazumi
domingo, 17 de dezembro de 2006.

Foto de Zedio Alvarez

La Belle Cris

No domingo me recebeu para almoçar
Preparou arroz no forno...
Desculpe, tive que me convidar
Para você, a vida sempre Bella vai estar

Bella ao lado de sua enciumada fera
Bella no jeito de amar
Cris, Bella menina!
Cristo sempre a te iluminar!

Os teus olhos falam pelo teu olhar
Eles piscam a cada instante
Dizendo que sempre Bella vai ficar
Mas as cores, eles não me deixam identificar

Desculpe mais uma vez
Pela invasão domiciliar
Tive que dar asa a minha ousadia
Para conhecer a mais Bella poesia.

(Minha homenagem para uma Bella amiga poetisa)

Foto de Joice Lagos

Dedicada ao jovem Maikon Willian Pereira Amon (falecido)

Numa madrugada de domingo você disse essa frase " diga para a Joice que eu a amo"
Meu coração teria explodido de tanta alegria, se não fosse pelo simples fato de que foi seu ultimo sopro de vida, seus últimos sussurros.
"Uma linda história de amor" disseram muitos, eu particularmente digo que foi a história de amor mais trágica que já conheci.
E o que mais me dói é que essa história tão triste é minha, e é hoje é a minha lembrança mais doída.
Você foi baleado covardemente naquele domingo , quando saía da danceteria, eu soube somente na hora do almoço, mas confesso que não acreditei, que me pareceu uma brincadeira boba, afinal fiz aniversário naquela semana. mas não, para meu desepero era mais real do meu eu gostaria.
naquela hora meu Mundo desabou, os sonhos que eu tinha se despedaçaram, eu chorei de dor, chorei de desepero, chorei todas as lágrimas que tinha em mim.
Te ver naquele caixão, me fez sentir vontade de soprar vida em seu corpo, de te abraçar e te impedir de ir embora, te impedir de sofrer.
Senti muito por não ter estado com você em seus últimos momentos de vida, senti por termos terminado o namoro um mês antes do incidente.
Pensei naquele instante que a minha vida ia com você. Mas Deus não me abandonou naquele momento, apesar de todas as lágrimas e de toda a dor, eu suportei o vazio e segui em frente, mesmo com o coração partido eu continuei a viver.
E Deus me presenteou, ele me deu outro amor, um homem maravilhoso que tenho certeza que você aprovaria.
Mas não sinta ciúmes meu anjo, porque você sempre será minha lembrança mais doce, ninguém apagará você de mim, ninguém consumirá com as lembranças.
E meu amor se você chegar a ler esta carta não sinta ciúmes do Maikon, não posso impedir que ele seja especial na minha vida, que seja uma lembrança boa, afinal tudo que foi bom no passado a gente guarda na alma e no coração para sempre. e você é meu presente e meu futuro é ao teu lado, e eu te amo muito.
E hoje através desta carta gostaria de desejar que o Maikon esteja em paz, onde quer que esteja.
Dedicada ao jovem Maikon Willian Pereira Amon, baleado covardemente ao sair de uma Danceteria em 09/01/2005.
De sua ex. namorada e grande amiga Joice Lagos

Foto de Fernanda Queiroz

Conto Uma tarde de Domingo

A Arte da Escrita será o tópico do encontro dos poetas, figurando como uma oficina de redação.

Bom a idéia já vem de longe, acredito que será tão importante quanto agradável nos exercitar em conjunto uma idéia, segmentada por mentes diferentes em construção de textos que poderão vir a ser contos, até mesmo editados.

Escrever não é difícil, mas também não é tão fácil, queremos através deste, justamente resgatar a ampliar o dom já existente em cada um dos poetas de Poemas de Amor.

Vamos começar com Contos.
Um Conto é mais difícil de escrever que uma novela, isto porque em um determinado espaço ele tem que se desenrolar com principio meio e fim, isto é dando a idéia inicial a qual seguida de uma narrativa que finaliza o enredo, então poderemos dizer que ele tem três partes.

Aqui neste exemplo vamos usar um dos temas sugeridos no V Concurso.

Uma tarde de Domingo.

Lendo o título podemos pensar em: Apartamento -Visitas – Impacto – Praça – Animais – Sorvete – Obstáculo – Jardim - Flores -De 3 a 5 Personagens

Então já temos as palavras que irão nos auxiliar nesta construção de texto.

Agora faremos um exemplo de narrativa: Narrar é como escrever olhando para os lados, observando todos os pormenores que podemos explorar na palavra a ser trabalhada, como por exemplo.
Uma praça, esta pode ser: Grande, arborizada, florida, iluminada, escura, abandonada, solitária, etc.

Baseando nestas informações podemos construir um parágrafo, o que daria origem a um conto narrativo.

Uma tarde de Domingo

Ao atravessar a rua, fazia um enorme esforço para não pisar nas poças ali deixadas pelo temporal que caíra, o tempo ainda estava úmido deixando a ruela mal iluminada mais soturna que realmente era. Andei mais depressa, queria chegar logo a enorme Praça que ficava a duas quadras do meu apartamento.

Um carro que passava sentido contrário iluminou com teus faróis a pequena distância, foi com grande alívio que pude sentir o delicioso aroma de jasmim, decididamente há três anos atrás, foi exatamente este aroma que me fez optar pela compra do meu sonhado apartamento.

Nascida e criada na zona rural, o que mais sentia falta era do contato com a natureza, a Praça dos Jasmins, era como se fosse a extensão de minha casa, era lá que eu passava grande parte do dia, entre frondosas árvores ou debaixo do solitário caramanchão, onde podia abrir minha cesta e tricô, recostada na pilastra de pedras polidas.

Balançando minha inseparável capa de chuva, pisando no meio fio para fugir, da lama que se acumulavam ao redor do passeio, mostrando claro desleixo das autoridades locais em manter os devidos cuidados sanitários ao município, entrei a direita, mesmo sabendo que era o caminho mais longo, mas certamente o mais agradável, pois passaria pela fonte onde os jasmins floriam em maior profusão.

Passo a continuidade a poeta Izaura Dias.

Obrigada Iza.

Foto de Concursos Literários

V Concurso Literário de poemas de Amor

E neste momento está lançado nosso V Concurso Literário.

Não podemos parar, é grandioso estar junto aos talentos deste Site, me sinto privilegiada por esta oportunidade. Aproveito para agradecer os e-mails recebidos onde o carinho se faz presente e para dizer a todos, não é Fernanda Queiroz quem faz Poemas de Amor, são vocês poetas com esta participação talentosa que vem crescendo cada vez mais.
Amparada pelo sucesso dos Concursos anteriores, estamos lançando um Concurso Duplo Poesias e Contos, assim atenderemos á todos nossos usuários.
Ampliamos também os temas:

Poesia:
Fragmentos
Renúncia
Saudades
Esperança
Destino
Tormentos
Tema Político( Aberto)

Contos

Uma tarde de Domingo
Retalhos de minha infância
Amanhã pode ser tarde demais...
O despertar do coração
Meu vizinho...
A Outra...
A vidente.
Skina de Bar
Enquanto você dormia....
Se eu pudesse voltar o tempo...
Tema Livre

A relação acima de sugestões, receberão através do tópico A Arte da Escrita várias dicas com a pretenção de inspirar o poeta a escrever, discurssar e narrar, será tipo uma oficina literária, onde podem também deixar perguntas sobre eventuais dúvidas. Qualquer idéia ali deixada poderá ser aproveitada por todos usuários, quem elaborar o texto terá teu direito autoral.

Vale lembrar que o tema livre vale somente para “Contos”.
“Poemas”, será observado rigorosamente abrangência do tema.

Poderão participar todas as pessoas cadastradas no Site, com uma ou mais obra se assim desejarem, atendendo apenas a expressa autoria do poeta, podendo já ter sido divulgado na internet, desde que com seu nome.

A data de postagem será de 04/10/2006 a 15/11/2006. Só estarão participando quem postar no tópico correto, ou seja, no fórum de “Concursos Literários”.

Quanto a seleção dos melhores Poemas ou Contos será estudado no decorrer do certame pelo corpo de moderadores do site e a administração, pois dependendo do número de post é que será baseado a quantidade de premiação, quanto a votação, fica a administração a selecionar um corpo de juri que se fizer necessário os quais receberão um e-mail de convocação.

Serão observadas a criatividade, abordagem do tema, ortografia e dissertação na figura de linguagem, e principalmente uma triagem do tema escolhido para dissertação.

Serão desclassificados: os textos que não abordem o tema proposto ou que expressem qualquer forma de discriminação ou ofensa aos autores que integram o site ou a banca julgadora do Concurso.

Os integrantes da comissão julgadora poderão postar, porém não estarão concorrendo.

Qualquer dúvida favor escrever á administracaopoemasdeamor.net@gmail.com

Concursos Literários
Fernanda Queiroz

Foto de Anjinhainlove

Na melancolia de um Domingo à tarde

Na melancolia de um Domingo à tarde,
Liguei o rádio e ouvi aquela musica,
Deitei-me na cama
E lembrei-me de ti.

Na melancolia de um Domingo à tarde,
Olhei pela janela molhada pela chuva,
Coloquei a mão no gelado vidro
E lembrei-me de ti.

Na melancolia de um Domingo à tarde,
Peguei num caderno e num lápis,
Escrevi a palavra “felicidade”
E lembrei-me de ti.

Na melancolia de um Domingo à tarde,
Vesti a minha roupa favorita,
Saí com ele,
Mas mesmo assim só me lembro de ti.

Foto de francineti

Mistura perfeita: chuva,amor e rede.

Era um final de tarde de domingo
a chuva enchia de mistério e magia àquele anoitecer
Você chegou tão diferente
estavas reluzente
não sei porque neste dia o sol não aparecia
Você me trouxe flores
enfeitou meus cabelos
convidou-me para dançar
enquanto a chuva caia e a música tocava
Você me abraçava e chamava: venha vamos dançar.
Meu corpo cheio de preguiça não resistiu a sua delícia
Olhei nos teus olhos lindos e começamos a dançar
enquanto a Fafá cantava
a gente se amava na rede que balançava sem parar.

Foto de Sirlei Passolongo

Paz

Onde está a Paz?
A paz que ninguém
Conhece mais!

A paz de um domingo
Em família
A paz de caminhar
Pela rua
E ter certeza de voltar
A casa sua.

A paz do braço
De um pai
Que uma bala
Matou
Deixando no
Filho,
A dor que
Não cessará jamais.

A paz do beijo
De um filho,
Que uma mãe
Não terá mais o afago
Pois, uma bala cruel
Levou seu filho adorado,
Deixando um eterno fel
Em seu coração inconsolado.

A paz do aconchego
De um lar
Onde a violência
Uma vida ceifou.
E tudo que nele
Restou
Foi a saudade de
Alguém,
Que a crueldade
De homens,
Para sempre,
Levou.
Onde está a Paz?
Que mais parece
um sonho fugaz.
(Sirlei L. Passolongo)

Foto de Paulo Gondim

MINHA MÃE

MINHA MÃE
(Paulo Gondim)

Ontem, eu vi a minha mãe.
Pessoa incrível, cheia de vida e de paixão.
Me disse ser bonito, “como és bonito, meu filho”!
No seu leito de espera e de vigília.

E me vi criança indefesa,
Perto de tanta fortaleza,
Que vinha do sorriso de minha mãe.

Já não sabia o dia,
“Achava que era sábado,
Quando ainda era sexta”.

Mesmo assim,
Seu carinho irradiava tanto afeto, tanta bondade
Que só se tem na maternidade
De uma grande mulher, mulher somente,
Que aos 92 anos,
Ainda era mais forte do que eu.
**************
Escrevi isto em 1999. Minha faleceu em 2000, em casa, numa manhã de domingo, em paz.

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