Desengano

Foto de Gilbertojúnior

AUSENCIA

Figurante lascivo
De um paradoxal amor
Fui o seu lenitivo
Transcrito na minha dor

Acoplado ao desengano
Da minha periferia
O sorriso maquiando
As lagrimas que já se via

Essa boca não beijada
Por um verdadeiro amor
É como o fim de uma estrada
O cansaço, a madrugada
A devolução de uma dor

A plataforma da carência
Que transpõe a ilusão
É a mascara da decência
Que transmuta a aparência
Sombreando a solidão!

Foto de Patrícia

Onde porei meus olhos que não veja (Diogo Bernardes)

Onde porei meus olhos que não veja

A causa, donde nasce meu tormento?

A que parte irei co pensamento

Que para descansar parte me seja?


Já sei como s'engana quem deseja,

Em vão amor firme contentamento,

De que, nos gostos seus, que são de vento,

Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.

Mas inda, sobre claro desengano,

Assim me traz est'alma sogigada,

Que dele está pendendo o meu desejo;

E vou de dia em dia, de ano em ano,

Após um não sei quê, após um nada,

Que, quanto mais me chego, menos vejo.

Diogo Bernardes (1520-1605)

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