Antes me assaltassem a fortaleza da sanidade. E distribuíssem meus desejos todos. Antes me impedissem as escolhas e os sonhos das noites, o devaneio e a graça do desejar. Antes me tirassem a vida, mas não me fizessem feliz. A felicidade é o pior mal, é a maior crueldade, a maior tortura e suplício, de quem ela não mais possui. Ser feliz é perder a capacidade, a vontade e a força, de ser qualquer outra coisa. É cegar-se para o cotidiano. É não mais suportar o tédio, a realidade, a vida. Me haviam ter feito infeliz toda minha existência. Assim, por segundo algum, eu sentiria o suplício da esperança, a humilhação e o pesar da lembrança. Saudade é ter sido feliz. E ter sido feliz è ser, agora, eternamente infeliz. Não há mas vida que lhe sirva. Não há mais cotidiano que lhe caiba. Ou coisa qualquer que lhe complete um segundo sequer. Ter tido a felicidade é perda insaciável, é perder sempre, todos os dias, todos os momentos. Ter sido feliz é transformar o futuro inteiro num puder ter sido. Rio algum correrá certo, montanha alguma deveria ser como é. Não haverão nunca cores novas ou novos ares, como deveriam ser. Tudo haveria de ser irremediavelmente diferente, do que será. Pois, sem a felicidade nada faz sentido. Nada tem motivo. Nada merece os abraços em recebida. Nada ama o novo. Nada é certo ou bom. Pra quem foi vítima da felicidade, tudo é saudade, tudo é lembrança.