Caçadores

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 7)

Lendo os pensamentos do gato e do gavião, a montanha deduziu que estava se repetindo ali outro fundamento da natureza: a competitividade. Pois que o gato, que antes havia adotado uma postura cautelosa, ao perceber que o gavião já vinha voando rápido e rasteiro na direção do pintassilgo, resolveu que teria de ser ainda mais rápido do que o gavião e aproveitar-se da distância bem menor a que estava do passarinho. Porém ainda mais rápida foi a montanha. Numa atitude muito condenável para qualquer montanha, no entanto, naquela situação, para ela plenamente justificada, puxou com força para dentro de si as raízes do arvoredo onde estava o pintassilgo. Assim, todos muito assustados, o passarinho levou um tombo, o gato deu um bote no vento e rolou longe, e o gavião por pouco não quebrou a asa no lajedo, ao desviar subitamente o seu rumo.

Algum tempo depois, como sempre acontece na natureza, tudo voltou ao normal e a vida prosseguiu sem grandes traumas. Mas não foi assim para a montanha. Ela havia agredido a natureza com seu ato impulsivo. Cometera uma transgressão. Usara o seu poder indevidamente e sabia que, de alguma forma, um dia pagaria um preço por isso. Até que esse dia chegasse, não obstante a distância física que havia entre elas, saberia que outras montanhas a veriam com outros olhos. Criara para si uma imagem de montanha passional, e ferira o sentimento de identidade das demais montanhas, que por isso não saberiam mais quem ela realmente era, e nela não confiariam mais. Seria pois discriminada e devia se preparar.

Para uma montanha tudo é bem mais demorado do que para um pintassilgo. É como se formassem os dois um grande lago. A tona da água seria como o pintassilgo, sua expressão externa, visível e inconstante, susceptível a uma enorme gama de fatores capazes de provocar grandes transformações em pouquíssimo tempo. Já o fundo do lago, protegido e isolado de tais fatores, onde nem mesmo pode chegar plenamente a luz solar, bem mais se assemelha à montanha. Nele nada é tão breve e tudo é mais verdadeiro e confiável. Muito a propósito, nessa dimensão da vida, não se provocam violações da naturalidade e por isso a montanha sentia-se pejada. Ela sabia que a natureza é sustentada por princípios ativos, que sempre conduzem tudo a bom termo, com base em uma sucessividade também natural, cuja mensuração chama-se tempo cronológico. A aceitação disso como verdade depende, entretanto, de que se tenha a consciência ancorada num nível universal e coletivo. Embora por inusitado e admirável sentimentalismo, ela priorizou as consciências individuais, do pintassilgo e dela própria, e por isso transgrediu. Esqueceu-se de que todas as soluções já fazem parte do todo, que ela própria representa nessa analogia. A supervalorização do nível individual da consciência, ou da sua auto-identidade, não é um comportamento adequado para uma montanha milenar, embora seja muito comum em seres que vivem menos como, por exemplo, os pintassilgos e os humanos.

O sol já ia bastante alto mais uma vez, quando a montanha estranhou o comportamento do seu tão amado amigo. Ele parecia estranhamente movido por uma força difícil de identificar, no entanto muito poderosa. Começou a piar cada vez mais forte e com maior freqüência, sem propriamente cantar, movimentava-se mais, expunha mais as penas à luz do sol e até os seus olhinhos negros pareciam brilhar mais. Impressionada e ao mesmo tempo preocupada com ele, já que assim despertaria mais o instinto dos seus predadores naturais, a montanha pôs-se a investigar mais de perto o que estava acontecendo e em alguns poucos minutos tudo começou a ficar claro.

Subindo lentamente a picada mal definida e íngreme que vinha do vale para a montanha, o mais moço dos dois caçadores, que a montanha já conhecia bem, chegava próximo ao lugar onde estava o pintassilgo. Tratava-se, com absoluta certeza, daquele mesmo que mostrara-se inconformado com a soltura do bichinho. E ele não podia estar bem intencionado, pois trazia consigo novamente uma daquelas gaiolas de caça, providas de rede, e dentro dela três outros pintassilgos, que também não paravam de piar apesar dos trancos e escorregões da subida. Não era para se acreditar que viera soltar mais pintassilgos. Seria bom demais se fosse verdade. Cansado da subida, assim que chegou ao lugar que julgou satisfatório, o homem pendurou a gaiola em um toco de galho quebrado e afastou-se, indo acomodar-se por trás do capim que cobria um pequeno lajedo, de modo a não ser visto.

Por algum tempo a montanha sentiu-se muito feliz. O seu pintassilgo cantava loucamente, como nos velhos tempos. Cantava muito e alto, eriçando as penugens do peito, esticando as pernocas e o pescoço. Parecia à montanha comovida que nunca ele cantara tanto, com tanta eloqüência, tanta emoção. Era como se estivesse cantando pela última vez na vida, reunindo todas as forças para isso, e sua consciência coletiva, entrelaçada à da montanha, o fizesse cantar compulsivamente, como se dissesse ao mundo: Eu sou o pintassilgo e esse é o meu canto, o meu papel nesse mundo e o que sei fazer de melhor!

De tal forma o seu cantar se apossou do ambiente, que todos os demais animais se calaram. Até o vento parecia quedar-se a tão bela e sonora efusividade. Com dois olhos arregalados, o caçador mal acreditava no que eles viam e no que seus ouvidos escutavam.

(Segue)

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"CAÇADORES"

CAÇADORES

Neste mundo de ilusões, entre ódios e amores.
Vou me esgueirando dos vilões, não sou caça.
Pertenço ao clã de caçadores
E na disputa ferrenha da sobrevivência defendo a minha raça.

Planeio por vales e colinas em busca das presas perfeitas
Tenho o faro das águias alpinas, feroz contundente e certeira.
E neste mundo de geral confusão que insisto em querer competir
Abro um leque de opções,mas não baixo as garras e não aceito Sair.

A vitória tem que ser companheira.
E quando a caça é astuta e insistente guerreira
Realizo-me, pois não aceito desistência.
A pelleia tem que ser verdadeira.

E por fim o descanso é marcado
Caçadores felizes cansados
E iniciantes totalmente deslumbrados
O vencido arfa em um canto, e o vencedor descansa aliviado.

Foto de Francisca Lucas

Uma Mulher Chamada Paixão

Já cansada de tantos sofrimentos
Selecionou os seus melhores pensamentos
Sentou em frente ao grande espelho
Do seu interior...
Estava farta de tanto conselho
O seu coração queria amor...

Mirando-se bem
Reparou na sua figura
Um alguém,
Uma pessoa insegura.

Teria que mudar!...
Ser corajosa para desbravar
O mar "bravio" que seria
A sua vida...
De agora em diante
Olhando tudo de frente.

Levantou-se num salto
Pensou alto,
Chutou o balde,
Não será de debalde.
Virou a mesa
Sentiu-se uma princesa
Precisava de destreza
E sulileza...
Era uma mulher atraente,
Muito carente
Procurava um "Romeu"
Um homem que fosse so "seu"

Viajou por muitos lugares
Andou em muitas praias
Fez muitas amizades...

Noutras vezes, ondas gigantes
Quase a sufocarão
Ficou diante de pescadores
e caçadores de corações...
Aqueles que fazem da pesca
E da caça apenas uma distração
Ah, pobre princesa desiludida!
Recolheu o seu coração
Bateu em retirada
Sentiu-se perdida
Neste mar de desilusão
Abandonou a partida
Saiu do jogo sem ação
De tudo sobrou só um deserto
Viu o enigma da vida de perto
Sumiu!... Ninguém mais a viu!...
O nome dela era "Paixão",
Alguns dizem que,
Hoje ela mora,
Num cárcere chamado "Imaginação"

...fim...

[ Esta é a história de uma mulher chamada "Paixão", transformada em poema ]

Foto de LEOANDRADE

Your Latest Trick (Leonardo Andrade)

Sim, essa era a música , o solo de guitarra tornava-a inesquecível, quase antológica.

Ela tocara a primeira vez que foram juntos para a cama no apartamentinho de três cômodos de fundos que ela alugava.

Chegaram quase sem roupa tal era a ânsia de se terem, iam com a pressa dos amantes de primeira viagem, com a urgência que só o tesão tem, com a voracidade arquetípica dos caçadores de sentimentos ...

Aquela noite era totalmente “unforgettable”, a troca de beijos e carícias rapidamente deu lugar aos movimentos rítmicos e coreografias do sexo. E tudo fluiu tão perfeitamente que quase podia se ouvir aplausos no final.

A calmaria pós-prazer cheia de beijos carinhosos e corpos abraçados foi um justíssimo prêmio a irrepreensível performance de ambos.

Muitas noites seguiram-se a essa, mas para ele, a emoção ia reduzindo, quase imperceptivelmente, mas ia, o que era incontestável lentamente transformava-se numa incerteza.

Seu quadro perfeito de felicidade vinha esmaecendo nas cores, tornando a imagem difusa e ele começava a achar defeitos nele.

Agora, aqui estava relembrando a primeira vez e achando que essa era a última, sua última chance ...

Ele novamente pensou em conversar com ela, a cena aqui descrita era repetição “si ne qua non” das últimas noites e ele já nem lembrava da cena original, mas não suportaria o choro ou as perguntas que ela faria, ele não estava embasado em razões palpáveis para explicar nada, ele apenas não queria mais.

Ela deveria entender isso. Como as mulheres são difíceis!

Olhou para ela, não parecia a mesma mulher-deusa que ele moveu céus e terras para conquistar, parecia tão comum.

Agora ele podia entender quando diziam que a divindade era algo necessariamente cultuado

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