Alvorada

Foto de Ivone Boechat

Oração da natureza

Senhor, no silêncio da alvorada,
venho pedir-te um favor:
que os homens,
respeitem meu ninho,
minha eterna morada,
dá-lhes um pouco mais de amor,
só um pouquinho,
Senhor,
quase nada.

Ivone Boechat

Foto de Carmen Vervloet

Peregrino

Tenho os olhos cheios de estradas,
uma vontade louca de caminhar...
Por mais que sinta o cansaço
meu corpo não me fará parar.

Tenho o coração cheio de sonhos,
uma criança viva a me incentivar,
tenho tanta esperança nos meus passos,
só não sei onde vou chegar.

Tenho as mãos cheias de carinho
e braços que querem abraçar...
Tenho alma antiga cheia de ternura,
asas cheias de infinito prontas para voar.

Na peregrinação deste meu destino
sou querer disfarçado em peregrino,
sou aspiração disfarçada em mulher,
sou fragmento de sol posto e alvorada.

Foto de Alexandre Montalvan

Tristeza

Jovem a face vespertina
A palidez da morte
Triste tristeza que ardia
Nos olhos cobertos de lagrimas
Que iam e vinham
Fugia, fugiam

A vida inteira
Na luz do sol enfraquecida
Ou pelas noites vazias
Entre nuvens escuras e frias
Seguiam, seguia,
Na noite ou dia
Perdida

Fugia a vida
E tudo mais aqui ficava
Fugiam espelhos e sonhos
Fugiam, fugia a alvorada

Seguiam na dor e tristeza
Não via na vida beleza
Seguia sem ser nunca amada
Seguia, seguiam erradas

Alexandre Montalvan

Foto de Alexandre Montalvan

Palavras de Amor

Se
todas
as palavras
fossem-me dadas.
E o canto das aves
ao nascer do dia, na alvorada.
Como sementes brotariam
versos e mais versos para você, minha amada.

E eu te amo, como fosse amor,
o primeiro,
eu até diria, gritando ao
mundo inteiro "Eu te amo",
porque te amar é minha sina, eu não exagero

E com meu coração aberto
este louco amor esta em mim e em você
o passageiro é por conta do incerto.
Assim como o nosso amanhecer

Alexandre Montalvan

Foto de Carmen Vervloet

Pitonisa

Hoje acordei canário cantante
e debruçada na janela ensolarada
abro meu sorriso mais cativante...
Acena-me a alvorada enamorada!

Uma cumplicidade paira no ar,
uma roseira tenra e molhada
não pode seu perfume abafar...
Inebria-me e me deixa embriagada!

Bêbada, de alegria, corro para o jardim,
acaricio a rosa, o gerânio e o jasmim,
o vento envolve meu corpo em suave brisa
e me transforma na mais sábia pitonisa.

E pitonisa eu prevejo o futuro
e antevejo tudo que é belo e puro,
as coisas mais simples da vida,
que trazem a felicidade na justa medida!

Foto de Carmen Vervloet

Sempre uma nova Esperança

Desperto com o coral da passarada,
no céu o sol desponta radiante,
a esperança renovada em cada alvorada
me faz seguir em frente mais confiante.

A energia refugiada na noite volta restabelecida
e junto aquela vontade imensa de construir...
Empurra-me para novas investidas,
sonhos dourados que me fazem seguir.

A fé preservada no coração,
a palavra de Deus apontando a direção...
Um vasto horizonte a ser descoberto
nos lampejos do espírito atento e aberto.

Foto de Carmen Vervloet

Poetas sobre Trilhos

Piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
A locomotiva
desloca a comitiva
pra um mundo surreal...
Poetas se encontram,
espírito uno,
um mesmo ideal.
Poesia rolando trilhos,
prateando com seu brilho
estação do coração.
O trem da alegria,
energia da poesia,
fumaça arco-íres
num céu de rapel!...
Versos sabor mel
lambuzam
a seda branca
da folha de papel!
O apito do trem,
ritmo vai e vem,
inspiração além...
Nuvem carneirinho,
mar azul marinho,
janela paisagem,
encantos da viagem,
verde do indaiá...
Canto do sabiá,
passeio instigante,
desembarque fascinante,
poesia coroada
nos raios da alvorada,
champanhe na taça,
alma alimentada
vagando ensimesmada
sobre a tarde aprazível que passa.

Foto de Elias Akhenaton

A cada manhã uma nova esperança

Amanhecendo o dia, divina alvorada,
O canto dos pássaros é doce melodia,
É um soneto cadenciado de profecia,
Que vem revelar-me uma boa jornada.

Brilha no oriente, aurora encantada,
O sol desponta em sublime alegria,
Vem confirmar com primor e galhardia,
Os prenúncios da outrora madrugada.

Há de seguir sempre com determinação -
A cada manhã uma nova esperança,
Um dos ensinamentos desde criança.

Deves ter uma aguerrida perseverança,
Aprendi com a vida, o tom da confiança,
Agradecendo aos céus, a Deus, em oração.

-**-Elias Akhenaton-**-
http://poetaeliasakhenaton.blogspot.com/
Embaixador da Paz pelo "Circle Universel
Des Ambassadeurs de La Paix" Suisse/France.

Foto de Allan Sobral

Lágrima (El Gordo triste).

Parado estava, parada ficou, no banco daquela praça suja e mal-cheirosa; lá estava o jovem gordo solitário, de barba por fazer, trajes de um trabalhador qualquer, só que sujos e rasgados, cabelos bagunçados, como se tentasse se suicidar enforcado-se com a própria gravata.
Em meio a tantos maus cuidados, naquele lugar escuro e gelado, iluminado apenas pelos primeiros raios de sol que anunciavam a alvorada, só era possível observar o olhar triste e vazio, fixo no nada, olhar lacrimejado que perdurou horas e horas.
Ao seu redor estava um mundo, estava a vida, mas em seu olhar desesperadamente estático, só habitava a morte, como se seu corpo não estivera mais sob controle, e que a bebedeira da noite passada não conseguira arrancar a tristeza de sua alma; pelo contrario, estampava ainda mais uma dor em sua face.
Ressaltava-se uma única lágrima, que lentamente escorria, riscando do prisma triste o seu rosto, se perdendo próximo aos seus lábios, branquicentos e rachados, e se desfazendo, totalmente nos fios sujos por farelo em sua barba.
O Jovem não mais percebia os comentários que lhe eram derramados, não mais percebia as pombas que lhe rodeavam, não mais percebia os sorrisos que lhe eram ofertados pelas crianças, nem se quer percebia que ainda tinha vida, algo que só era possível observar pelos eventuais movimentos lentos de suas pálpebras úmidas.
Após horas naquela triste visão, em movimentos lerdos e soltos, retomava as forças, pouco a pouco dava sinais de vida, com muita dificuldade, levantou-se e com passos de uma criança que acabara de aprender a andar, saia cambaleando e escorando-se nos bancos e arvores, e foi-se embora, levando consigo sua tristeza e seu olhar vazio, levando consigo para sempre o mistério de uma dor.

Allan Sobral

Foto de Carmen Vervloet

Chamado

Buganvílias debruçam-se sobre as margens da estrada,
enquanto o sol, com suas vestes douradas, esparrama sua luz...
Sonho vozes de primavera ao nascer da alvorada
e minh’alma admirada ouve o chamado de Jesus.

Parto com passos leves para a nova jornada,
caminho para um lago calmo, pura miragem!
Uma alegria me invade, às gargalhadas,
brilha a flor dos meus olhos nesta viagem.

Já não existem lapsos entre presente e futuro.
O tempo alonga seus braços e tudo envolve...
Meu coração bate feliz, pleno e puro,
tomado pela fé que a ele tudo devolve.

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