Alma

Foto de Carmen Lúcia

Caminhos

Não fosse o pranto não avaliaria o sorriso,
não fosse a dor dispensaria o afago,
não fosse o grito calado, palavras soariam distorcidas,
não fosse a tristeza, a alegria seria camuflada,
não fossem as ausências, a simples presença seria afastada,
não fossem os nãos bradados, os sins perderiam os significados,
não fossem as pedras do caminho não me prenderia aos detalhes.
não fossem as noites escuras não me encantaria o luar,
não fosse a perseverança não me importaria a conquista,
não fosse a primavera me acomodaria o inverno,
não fosse o suor a colheita seria irrelevante,
não fosse o pecado não conheceria o perdão,
não fosse a solidão não me apegaria aos amigos,
não fossem as subidas não me deliciaria com as descidas,
não fossem os percalços nada seria tão desejado,
não fosse o fundo do túnel não veria a sua luz,
não fosse o silêncio não haveria flashes de reflexão,
não fosse a impaciência não mensuraria a compreensão,
não fosse o amor me absteria da vida,
não fosse a carência, negligenciaria o carinho, a proteção,
Não fosse a voz da alma calaria a poesia.

_Carmen Lúcia_

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
18/11/2010

Foto de poetisando

Hoje eu fiz amor contigo

Hoje eu fiz amor contigo
Deitado na minha cama
Havia espaço demais para mim
Então fechei meus olhos
E visualizei a tua imagem
Dava para ver a tua alma
Puxei-te para o meu lado
Tirei-te o teu vestido
Deixando o teu corpo nu
Fiquei te observando
Parado diante do teu corpo
Como eu o contemplava
E com o toque suave de minhas mãos
Percorri todas as tuas linhas
Todas as tuas curvas
E por mais que explorasse o teu corpo
Em cada investida descobria
Novos detalhes, novos segredos
Depois cansado de percorrer o teu corpo
A minha boca implorava a tua
Queria sentir o teu gosto
Cedi então aos meus instintos
E numa loucura infinita
Percorri novamente aqueles
Caminhos que já conhecia
Me perdi entre os teus braços
Desejava-te naquele momento
Ouvia apenas o teu gemido
E o bater do teu coração
Descompassadamente
Era apenas um corpo no mesmo ritmo
Éramos puro tesão
E somente aquele momento importava
Nada mais tinha sentido
O teu corpo, o teu cheiro, e teus gemidos
A tua boca na minha boca
O roçar das nossas e línguas
Então abri os meus olhos
E tu não estavas ali
Mas não importava
Eu fiz amor contigo
Como jamais fizera
E nada mais fazia sentido
De: António Candeias

Foto de Fernanda Queiroz

Antes que o Ano Termine

Falta um dia para que o ano termine. Um dia intenso que pode mudar toda minha existência. Só preciso ter coragem e ir até onde você está... Antes, 450 km, agora 50 km. Por que veio para cá? Queria me confundir ainda mais? Estaria esperando que a proximidade me fizesse ser mais mulher... mais corajosa? Sabe que meu destino está traçado. Não me deixaram editá-lo. Sabe que não posso voltar, então porque não vem... Rouba-me, Toma-me, Leva-me para nosso mundo de sonhos; onde tua ausência presente foi marco de nossa história.

O sol está se pondo, o alaranjado de céu é o contraste perfeito com a relva que se estende verde e úmida pelas chuvas de dezembro. Tanta calmaria vem de contraste a minha alma conturbada e sofrida. Posso sentir meu coração batendo forte, tão forte quando o podia ver por aquela janelinha mágica do computador, cenário de nossa história, testemunha de nosso amor, cúmplice de nossos segredos, arquivo de momentos que perpetuarão dentro de mim. A brisa suave sopra. Parece querer brincar com meus cabelos, alheia a tempestade que envolve meu coração. Deixo a mente explorar o passado... Tão presente... Teus olhos, tua mania constante e única de apoiar teu rosto nas mãos. O sorriso espontâneo, a cara emburrada, os olhos se fechando de sono, e a vontade de ficar um tempo mais...e mais ...até o galo cantar...a madrugada... o sol nos encontrar ...felizes ou tristes...juntos.

A noite traz a transparência de minha alma, negra, sem luzes, sem amanhecer. Preciso me movimentar, sair deste marasmo de recordações. Thobias, meu companheiro de peripécias, que um dia correu tanto quanto no dia em que estouramos uma colméia; está selado, entende o que me vai à alma, conhece meu estado de espírito, sabe quando é preciso deixar as paisagens para trás, mais rápido, mais rápido, até se tornarem uma massa cinzenta, sem cor, ou forma retratando o mais profundo que existe em mim. Agora, no embalo do cavalgar, meus sonhos se afloram. Estou indo ao teu encontro, nossas mãos se tocarão, nossos corpos se unirão, nossos corações baterão em um só ritmo. A brisa tornou-se um vento tão gélido quantos minhas mãos que seguram as rédeas de um futuro-presente. Gotas de chuva descem sobre minha face, misturam-se as minhas lágrimas. Tenho a sensação de não estar chorando e sim caminhando para você. Na volta para casa nem o aconchego da lareira, o crepitar constante elevando as chamas transmite liberdade, as sombras sobrepõe à realidade que trará o amanhecer, elevo ás mãos solitárias tentando voltar ao tempo de criança onde elas davam vidas retratadas na parede imagens de bichinhos animados, mas não se movimentam, parecem presas ao aro de ouro reluzente que por poucas horas trocarão de mão fecundando o abismo que se posta diante de nós. O cansaço e as emoções imperam. Entre sombras e sonhos, meu pensamento repousa em você, na ilusão, nos sonhos, na saudade pulsante de momentos mágicos vividos, onde nossas almas se encontravam, onde nossos corpos não podiam estar. De desejos loucos e incontidos de poder realizar, antes que o ano se finde, antes que as horas levem tudo que posso te dar.

O amanhecer desponta, caminho a esmo, no escritório, ao lado direito da janela que desponta para colina verdejante (cenário de nossa história). O computador me atrai.. Você está off, está há apenas 50 km, mas em meus arquivos de vídeo teu rosto se faz presente, tua boca elabora a mímica de três palavras mágicas “EU TE AMO”.A musica no fundo é a mesma que partilhamos tantas vezes juntos COM TI RAMIRO, gravada em meu studio amador ao som de flauta. As notas enchem o ar, a melancolia prevalece, meu coração se enternece, “POR FAVOR, VENHA ME BUSCAR”, não vou conseguir sozinha, você sabe disso, é exigir demais de quem só soube amar, sem nunca saber lutar, sem nunca poder gritar, com um destino a cumprir, um dever de tempos idos e protocolados nos princípios de toda uma existência. O dia se arrasta imortalizando o passado. Estou diante do espelho, o rosto moreno não consegue esconder a palidez, o vestido branco de seda cai placidamente sobre meu corpo inerte. Vestido que outrora minha mãe usara com os olhos brilhantes de felicidade. Os meus não têm brilho, este fora reservado às perolas que adornam meus cabelos negros, sempre me achei parecida com ela, mas a imagem reflete somente uma semelhança física onde a mortalidade de meu semblante contradiz a vida de tempos passados.

Pedi que me deixassem ir só, queria ficar com meus pensamentos, onde você é soberano. Que bom que ninguém pode me tirar isto: tua imagem, teu sorriso, tua forma única de existir para mim, mesmo que em sonhos, mesmo que em lembranças, mesmo que em minha morte para a vida que se inicia. A escada imperial e central se desponta com teu corrimão de prata por onde desci tantas vezes lustrando-o com minhas vestes. Minhas mãos se apóiam nele, trêmulas, frias, para que eu não quede diante da realidade... Apenas trinta degraus? Deveria ser trezentos, três mil, ou trinta milhões? Eu os percorreria com gosto, antes de pisar na relva verde coberta por um tapete de pétalas de rosas que conduziam à capela. Porque desfolhá-las? Porque enfeitar a vida com a morte? Rosas brancas, pálidas como minha alma, desfolhadas e mortas como minha vida. Ao lado o lago que outrora me fazia sorrir, brincar e acreditar....queria parar...descalçar o pequeno sapatinho branco e sentir a frescura das águas elemento mais forte e presente da natureza em minha vida...mas agora não posso parar a poucos metros está minha rendição, meu destino onde o oculto será sempre meu presente, onde o passado será minha lembrança futura, onde você viverá eternamente, onde ninguém poderá jamais alcançar. A capela parecia lotada, não guardei rostos, somente sombras. No altar uma face, feliz, despreocupada, livre, sentado em uma cadeira de rodas estava papai, tuas pernas não mais suportavam me conduzir, teus braços que muito me embalaram, já não mais me apoiavam...segui em frente. Pensei em me voltar ..olhar para trás, mas não iria te encontrar. Palavras ditas e não ouvidas... trocas de alianças...abraços de felicitações....buquê lançado ao ar, festividades...todo ar de felicidade.

Faltavam dez minutos para findar o ano...minha existência já tinha terminado, o celular em cima do piano da sala...8 minutos...mãos tremulam ao aperta a tecla da re-discagem...minutos eternos...do outro lado a apenas 50 km, tua voz ...doce...amada...terna, parecia querer ouvir o que eu queria falar e não podia...engolindo as lágrimas. Apenas um pedido: seja feliz, seja feliz por nós dois...uma resposta que mais parecia um lamento, que por mais suave, parecia um grito...Seja feliz também.....um tum tum era o sinal de desligado....zero hora. Fogos explodindo no ar...

Fernanda Queiroz

Direitos Reservados

Foto de poetisando

Sonho

Era como um sonho bom
Eras o meu sonho
Sonho que eu desejei
Nosso amor podia ser lindo
Como eu sempre o sonhei
Mas tudo tu mudaste
Já não sei mais que fazer
O meu mundo era só eu e tu
Ai como eu amava viver
Tu me ensinaste o amor
Ensinaste-me o que era a paixão
Tocaste no fundo da minha alma
Mas feriste-me o coração
Não sei se algum dia mais
Vou amar mais alguém
Hoje sei o que é sofrer
É a ti que amo e mais ninguém
Talvez um amanhã apareça
E eu te possa esquecer
Tantas lágrimas já chorei
Já não sei mais o que fazer
Para me esquecer de ti
Não sei se o conseguirei
Foram sonhos tão bonitos
Sonhos que eu tanto amei

De: António Candeias

Foto de vânia frança flores

O MEU VOAR

Vou voar livre com todos os meus defeitos pra que eu possa me libertar.
Dos traumas, das tristezas,da angustia que minha alma carrega..
Vou voar alem das estrelas encima dos mares chegar perto das nuvens.
E a noite vou pousar e descansar minhas assas,
minha mente.
Pra que outro dia esteja com forças revigorada pra seguir em frente .
e conquistar o impossível novamente..
Sou um Pássaro em busca da liberdade
eu canto pra soltar as minhas emoções
Como é belo e feliz é o meu cantar,e assim eu vivo a sonhar
Em busca de uma grande montanha e arvore ali farei meu ninho pra
poder pousar.

Foto de poetisando

Fuga ao destino

Fujo deste meu destino
Tenho que o fazer agora
E ir viver a minha vida
É chegada a minha hora

Não quero estar mais exilado
Da ausência de ninguém
Só quero como prémio
A vida viver também

Viver cada momento
Viver o dia de hoje com alegria
Sem ter sombras do passado
Sem tormentos durante o dia

Viver o dia cheio de felicidade
Com a alma sempre em paz
Esquecer o meu passado
Viver o dia como me apraz

Irei viver cada momento
Como se fosse o ultimo dos meus dias
O passado já o estou a cicatrizar
O meu futuro não o conheço
Nem vou nele mais pensar

Vou fugir do meu destino
Está chegada a minha hora
Vou viver a minha vida
Tenho que o fazer agora

De: António Candeias

Foto de poetisando

Fuga ao destino

Fujo deste meu destino
Tenho que o fazer agora
E ir viver a minha vida
É chegada a minha hora

Não quero estar mais exilado
Da ausência de ninguém
Só quero como prémio
A vida viver também

Viver cada momento
Viver o dia de hoje com alegria
Sem ter sombras do passado
Sem tormentos durante o dia

Viver o dia cheio de felicidade
Com a alma sempre em paz
Esquecer o meu passado
Viver o dia como me apraz

Irei viver cada momento
Como se fosse o ultimo dos meus dias
O passado já o estou a cicatrizar
O meu futuro não o conheço
Nem vou nele mais pensar

Vou fugir do meu destino
Está chegada a minha hora
Vou viver a minha vida
Tenho que o fazer agora

De: António Candeias

Foto de poetisando

Drama

Estou vivendo um drama interior
Que me está a consumir
Não consigo me encontrar
Só me apetece é sumir

A minha vida já nem eu sei
Tenho dias de uma tristeza sem fim
Tenho dias que estou alegre
Não sei o que vai ser de mim

Tento encontrar-me
Pareço um barco no alto mar
Que perdeu a sua rota
Que não sei como me encontrar

Alturas sou um autêntico vendaval
Outras de tamanha felicidade
Horas de tantas amarguras
Que não sei se é crises da idade

O passado não o esqueço
É coisa que não consigo
Vejo-o a toda a hora
Não sei que se passa comigo

Passo dias e até noites
A sonhar com o passado
Quando devia estar esquecido
Dias que passo atormentado

Não vejo chegado o dia
Que a morte me venha buscar
Para eu ter sossego e paz
A alma e o coração descansar

Vivo este drama sem fim
Que me está a corroer
Não consigo encontrar-me
Porque não antes morrer

De: António Candeias

Foto de Alexandre Montalvan

Jarro de Amor

Nada eu tenho nada eu possuo
Apenas no olhar me resta,
...uma certa esperança.

Ainda carrego comigo m'alma criança,
Percebo no aroma das rosas uma certa magia
Que encanta,
...Como ler Neruda ...Como ver Tarsila
E ainda escrever nas cinzas,
... Poesia

E te olhar nos olhos
E dizer ti amo
E brincar na areia
E correr no vento.

Fazer,
...Com que um céu cinzento
Vire primavera
Com flores e sonhos e beijos

Cheio de desejos,
...E eu à tua espera
Como um jarro imenso
Cheio de amor

Alexandre

Foto de Carmen Vervloet

Soneto ao Sol

Por que tens vestes amarelas
e dedos longos que me alcançam
e pinta o alvorecer em suave aquarela
e seus raios sedutores em mim se lançam?

Que alegria faz teu sorriso tão lindo
num rosto ardente cheio de luz
e o seu calor sempre bem-vindo
aquece minha pele que em fogo reluz?

Minh’alma como imã atrai tua alegria
enquanto todos os males se evaporam
e fica no ar aquela melodiosa sinfonia...

E estonteada eu perco o tino, a direção...
Já nem enxergo aqueles olhos que choram,
entrego-me nos braços desta louca paixão!

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