Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias.
Comentários
Fátima:
Zênin Cirino - www.oarrojado.blogspot.com
Fátima, Fátima,
texto congruente, hiper lúcido e analítico. Nem por isso apoético. Através dessa poesia você se descreveu a si mesma: uma mulher objetiva, sucinta e obstinada.
Muito bom.
Obrigado Zenin Cirino
Cristina Costa
Quero agradecer pelo facto de ter lido o meu texto, de facto este texto `e antigo, mas decidi voltar com algo conhecido, ate porque algumas pessoas o pediram.
`E sempre bom saber que alguem compreende a nossa escrita, e no teu caso, pode ate fazer uma breve descricao da nossa pessoa, e tens razao, essa `e de facto a mulher que sou, nao o fui sempre, mas acho q a vida nos permite amadurecer.
Uma vez mais muito obrigado.
UM abraco.
Cristina Costa