Blog de rosemari hauenstein
Trilhas
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Improviso palavras sem nexo quando cheiro
fragrância de absinto que trazes com teu ar
para que não me ouças dizendo
em todos os tons que o amo.
Improviso gestos incoerentes para que não percebas
nem o mais leve indício de minha vontade
e que minhas mãos também o chamam.
Improviso alvos para meus olhos apaixonados
para que não vejas que está escrito
teu nome em meu coração.
Raras vezes abres espaço
e surpreendes meu instante com um aceno,
mas é tão sólido quanto neblina
e junto não vem palavra
e continua tua misteriosa inexistência
e tuas trilhas desaparecem
sem deixar vestígios
e teus passos,
não te trazem a mim.
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Metade de mim
é emoção
e deseja teu corpo ao alcance da minha mão
a outra metade
é razão
e imune te afasta, ignora, finge ilusão.
Metade de mim
não me deixa do teu beijo esquecer
a outra metade
impassível, não me permite sofrer.
Metade de mim
lembra o calor ardente do teu abraço
a outra metade
insensível, nega a existência do laço.
Metade de mim
quer novamente ouvir tua voz
a outra metade
implacável, exige que esqueça de nós.
Metade de mim
é sonho acordado de desejo e lembrança
a outra metade
inabalável lucidez que cessa a esperança.
Metade de mim
subjuga meu corpo na ansiedade do amor
a outra metade
impiedosa rebela-se, aumentando minha dor.
Metade de mim
emoção
grita teu nome ao vento
incontida, desesperada de paixão
a outra
indiferente se cala, sem nenhuma razão.
Você é aquele e o outro
das minhas horas de paixão,
é o lago sereno
que esconde minha lucidez
e lança-me ao delírio da inquietação.
Você é meu desespero, quase resposta
para minha interrogação,
é aquele que me enlouquece
e ilude meu coração.
Você é meu domingo de chuva e sol,
meus anéis de Saturno
e a mais brilhante constelação.
Você é minha lua cheia e nova e renova
meu desassossego e meu medo,
é minhas teias e da minha praia, as areias.
Você é minha caminhada sem chegada,
minha vontade insaciável,
meu mistério, meu segredo irrevelável.
Você é meu silêncio sofrido,
é o meu amor proibido.