Já vivi mais de meia-idade
De cabeça deitada na almofada
Em tudo o que planeei e não fiz
Nesta minha vida malfadada
Agora com mais de cinquenta
Com mais de meia-idade vivida
Penso nesta minha velha carcaça
Que fiz eu afinal nesta vida
Acabo por adormecer e sonhar
Que sou uma carcaça com sorte
Não conheci o amor enquanto novo
Só conheci quase na hora da morte
Sonho que nada fiz na vida
Mal não ninguém fiz também
Posso partir deste mundo
Que partirei feliz como ninguém
De tudo o que fiz nesta vida
De nada tenho que me a arrepender
Tentei a toda a gente ajudar se pudesse
Voltar atrás o mesmo voltava a fazer
Já a muito que sonho com a morte
Essa coisa que é tão atrevida
Parece que me quer levar já
Sem me deixar gozar mais a vida
Agora que passo da meia-idade
Tudo me vem em sonhos recordar
Até de quando era criança
Assim vou continuar a sonhar
Como os anos passaram tão rápidos
Penso agora que estou acordado
Que fiz eu nesta minha vida
Onde terei eu andado
De: António Candeias