HORA MARCADA
São 5 horas da manhã, mal o dia nasceu e meus olhos já estão despertos, inquietos, acordados...
O telefone insiste em tocar, toca forte, teimosamente incomoda o meu silêncio, unicamente meu. Lembrei-me que não tenho nenhum telefone, nada parecido com seu trimtrim...mas, esses meus ouvidos que escutam passos, laços apertando a dor, lamentos ocultos!
Agora sim, são exatamente 6 horas e meus pensamentos flutuam perdidos. O tempo nunca para e o relógio marca em segundos, seguindo numa mesma direção.
Agora são 7, 8, 9 horas e o trem apita três vezes naquela mesma estação, gente de cá, de lá, vindo, indo e nunca voltam, perdem-se no meio do caminho. Dirijo meus olhos aos ponteiros que circulam e jamais se cansam, marcando o mesmo compasso sem atalhos. São exatamente 12 horas e, no entanto, essas horas todas num dia tão curto, e não explica, só complica. Raciocínio lento, sonolento.
Agora o relógio marca 18 horas, as estrelas lá fora despertam luminosas, a escuridão ofusca-se diante de pequeninos e brilhantes pontinhos. A lua surge preguiçosa, (meia lua). Estou ainda aceso e as horas correm, escorregam; ouço o tic tac do despertador que segue religiosamente o tempo, infinitamente estou indo junto acompanhando cada segundo, acordado, desperto, profundamente moribundo!!!
São 5 horas da manhã, mal o dia nasceu e meus olhos já estão...
LUIZ NEVES