Blog de Luís César Padilha
.
.
.
.
quem vai sem medo refaz o tempo
quem teme o tempo perde o sorriso
o mesmo peito teme a saudade
porque não entende nossa jornada
não foi de instante nossos olhares
nem nossos mares são lágrimas
meço os sentidos na madrugada
provo mentiras imaginadas
as novas cores visualizadas
compõem paisagens desensolaradas
mas resiste ao breu e ruas fechadas
sem telefonar ou ajoelhar
.
.
.
.
.
no repente do alvoroço
as curvas se enlaçam
na explosão de pernas
no requinte do endereço
a coragem redime os atos
na propulsão de estigmas
já o cansaço de desejo
acalma o cio de entremezes
rompe o vidro da inconsciência
na suspensão das cenas
no instante em que adormece
.
.
.
.
.
Há dez anos olho pela janela o mesmo morro
e muitas coisas mudaram aqui.
O tempo levou os alambrados de proteção
e as pessoas levaram os tempos.
Os homens que cresceram suas barbas
tentam retornar por seus descendentes.
As mulheres que cresceram suas lidas
tentam retornar por seus descendentes.
Olharei por muito tempo ainda o mesmo morro
e viverei muitas coisas novas por aqui.
Talvez as edificações o encubram,
para que ele finja ter mudado.
Os homens que cresceram suas barbas
retornam para construir outros tempos.
As mulheres que cresceram suas lidas
retornam para construir outros tempos.
Nas ruas ainda não sei de olhares do mesmo morro
e as coisas são revividas por aqui.
Os nomes passam por mim
em busca de horizontes.
Percebo o que olho em mim,
pouco sei do que está distante.
De lá o morro me vê
e diz que sou o mesmo.
.
.
.
.
.
não se remonta um sopro
através de um suspiro
só mesmo uma ventania
pode fazer crescer
com sua fúria
a união entre
seres
e
como
formigas
instintivamente
ocorre humanização
.
.
.
.
têm cidades esses mundos
rodeados por fronteiras cutâneas
enriquecidos de minérios capilares
essas cidades são construídas por histórias
não são avessas ao mau tempo
e ficam mais encantadoras com flores
e esses mundos devoram catedrais
bebem as correntezas mais febris
para se reconhecerem nas próprias tempestades
.
.
.
.
Estou triste,
fechado no círculo de mim
e não encontro a porta.
Estou assim,
sem entender por onde
a estrada corta.
Estou tal
qual no escuro intenso
quem encontra a fenda torta.
Sem perder de mim,
absorvo o inóspito,
para que, em uma curva qualquer,
eu permaneça nos trilhos.
E, com passos firmes,
entenda onde a estrada corta,
esfaqueie a fenda torta,
detone a desejada porta.
.
.
.
.
Rios ao mar!
Corredeiras ao mar!
Enxurradas ao mar!
Mananciais ao mar!
Desaguadouros ao mar!
Toda água quer ser salgada...