Em qualquer dia desses...
"Hoje já é sexta, segundo o incorruptível horário de Brasília. E eu tive mais um dia feliz. Não foi um dia maravilhoso, a Mega-Sena não me sorteou, o Corinthians não joga, a minha mortalidade continua a mesma, provável e certeira, nas suas dores antecipadas. Hoje, e os dois anos de repetência e depressão inúteis me ensinaram, hoje a vida é boa e inevitável. A minha companhia é a Tereza, e não me perguntem o motivo. A felicidade é inquestionável, ela é simples como o Sol em Sagitário e o pão com mortadela. A felicidade é o bolachão de zinco, o Yakult, o apoio da Caixa Econômica Federal, a condução vazia e o programa da Rede Globo. Quem explica, e pergunto para vocês mesmos, os paladinos do sentido e da vida acadêmica, se dentro da anulação da matéria pela antimatéria qual é o espaço possível para a existência? O que explica a felicidade, que é o que também explica o sofrimento, é o fato da eterna discórdia dos fatos, o poder dela sobre os acontecimentos, as situações, os desencontros, os milagres. A taça é o imponderável, o brinde é a vertigem, é a glória! Lasquem-se os objetivos estáticos! A realização já está dentro do ser quer ele queira ou não!"