GARDEL
Comprei Gardel,
do pescoço verd'amarelo,
com alguns milhares de cruzeiros.
Gardel era meu.
Verd'amarelo na gaiola,
Gardel cantava em vao.
A garganta de Gardel
era só trinado e solidao.
A minha, rouca,
a do carceireiro torturado.
Gardel no ônibus,
na caixa de sapatos.
Princípios e razao.
Gardel no mato,
debaixo do meu braço,
meus cuidados de pai e mae.
Abri a caixa
abri os braços
gardel trinou, hesitou
levantou vôo
ruflou suas asas de anjo
verde e amarelo
sobre as árvores verdes,
Gardel livre.
Quem voava era eu.