DE CUJUS
Não me amas mais
nada em mim te encanta.
A mim não se parece aquela
A quem querias na tua ganância.
Nada em mim te provoca
Fica essa boca em brasa
Manchando os lençóis da casa
E tu nada. Nada de resposta.
Queria que me dissesses palavra
capaz de espantar minha mágoa
Mas nada dizes. Nada te ocorre
A esperança desfalece e morre.
Na cama vazia me deito
Como é de costume
Enquanto jazes ao lado
Defunto, de cujus, decúbito
Sei que não dormes
Mas morres todo dia
E morto ficas e morto vives
Eu? Nada. Fui um deslize.
Um dia no mesmo cigarro
Nas duas bocas um único trago
Promessa, conversa, afago
Te amo, te como, te guardo
Hoje finges um sono que não existe
Mas antes dormias no meu sonho mais triste
Ate que me convencestes a dar meu destino
Para que me deixasses sem rumo sem trilho.
Não me amas mais nem nada te encanta
Porque não vives em paz e me deixas solta
Para que eu seja a viúva, o véu na sombra
O olhar que não mais interroga?
Nada em mim te encanta
Mas não adianta
Teu costume é defunto criança
Que em mim apenas descansa
Não me amas mais
Nada em mim te provoca
De cujus, decúbito, demais
o amor nunca suporta
E se afasta
Nefasta a hora
Em que dissestes
Sempre e agora.