ANJOS
É por onde ando vergando
Cambaleando sem mar
Que deixam seus rastros
Encontro seus vestígios
Coisas que caem das alturas
Enquanto passo adernando
Nas calçadas apertadas
De pernas ocupadas
Na escada do prédio
Também encontro vestígios
De uma curta revoada
Impossível no espaço exíguo
Caem-me sobre a cabeça
Por vezes irritando pelo excesso
Às vezes, quando anojado, sublimando
Elevando minha dor à felicidade
Do terraço na São Sebastião
Aspiro fundo até ofender a respiração
Um dia, quando forem suficientes,
Com paciência, desvelo e arranjo
Colarei cada uma das penas perdidas
Que encontro todos os dias da minha vida
Para construir asas como as dos anjos
que farão voar
Quem sequer anda direito