PÃO E VINHO
( In memorian: Eurípedes (Macedônia), Omar Khayyan e F. Pessoa)
Sem vinho, onde haveria amor...
E quando o inverno nos batesse à porta,
Que ares deveríamos logo assumir,
Recorreríamos aos do Mediterrâneo,
Filtrando o binômio trigo/vinha
E passaríamos as tardes os saboreando.
À noite, quando tudo parecesse dormir,
Ficaríamos inertes até de pensamentos,
Buscando somente uma cristalina taça
E o que houvesse de precioso dentro dela.
Sem pão, qual fibra vibraria em nós...
Tudo fluiria, pegaria o veio do vento
Passaria por entre os dois pólos
Dentre os quais existiriam indiferentes
Apenas os dias, que foi e que virá,
Já que o hoje seria o bastante
E completo para nos embriagar.
A vida pode até ser boa, mas o vinho
Ah, esse sim, é muito, muito melhor
Talvez amanhã a lua nos procure em vão,
Sentemo-nos ao relento, sentindo apenas
O regresso do sol, apagando as estrelas
E desvanecendo as luzes mais soberbas
De tantas salas requintadas, vazias,
Tudo a nos mostrar o curso da vida,
Ou de que deveria ser simples, natural.
Bebamos para nunca nos sentirmos só
E brindemos ao prenúncio de novos amores.